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sábado, 10 de agosto de 2013

BENVENUTO CELLINI - Por Nicéas Romeo Zanchett



BENVENUTO CELLINI 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                    A estranha e legendária figura de Benvenuto Cellini, chegou até nós em esplêndida e sincera autobiografia, mas sempre permanecerá como um símbolo da atribulada época em que viveu.  Seu talento artístico legou ao mundo grandes obras escultóricas. Mas existe outra lado desse grande artista que poucos conhecem. 
                    Era muito briguento, grande espadachim, boêmio, aventureiro, cheio de vícios. Contudo, graças á sua genial arte, em que punha seu incomparável talento, tudo lhe foi perdoado.
                    Nasceu em Florença a 03 de Novembro de 1.500 e nesta mesma cidade, faleceu em 13 de Fevereiro de 1571. Seu pai, Giovanni Cellini,  era proprietário de terras rurais, construía e tocava instrumento musicais. 
                    " Senhor Michelagnolo Bandinelli , este é um dos meus filhos; pequeno, como o vê, mas desenha maravilhosamente e gostaria muito que lhe ensinasse um pouco de sua arte. Na verdade, ele toca pífaro tão bem que desejaria fazer dele um músico; mas parece que a sua preferência  é para esculpir e borrar papéis...." 
                    Foi com estas palavras proferidas por seu pai que Benvenuto Cellini entrou no atelier do Maestro Michelagnolo onde começou a trabalhar de buril e agravar pedras preciosas. Aos poucos foi se tornando senhor de todos os segredos da profissão; ninguém possuía olho tão experiente em pesar safiras e esmeraldas, nem a mão tão leve para lidar com ouro como aquele adolescente florentino de olhar atrevido e engenho afiado como a lâmina de uma espada. Mas, era tão ágil com amente quanto com a língua  e com a mão; era briguento e seu punhal facilmente saltava da bainha por qualquer ninharia, por um gracejo, ou por um simples olhar que não lhe agradasse. Como era previsto, um certo dia suscitou tamanho alvoroço de gritos e pauladas, que foi obrigado, para não ser preso, fugir de Florença para Roma. 
                   Naquela época a Corte do papa Clemente VII chamava para junto de si todos os bons artistas e literatos da Itália. Com apenas vinte e três anos, Benvenuto Cellini, recebeu a primeira encomenda e fabricou um par de brincos, que provocaram infinitos aplausos, como também uma grande quantidade de inveja pelo seu talento. 
                   Como astuto florentino que era, tinha ótimo trânsito entre os senhores arrogantes e vingativos, colegas manhosos e pérfidos; infiltrava-se habilmente nas intrigas e nos mexericos da corte; tornou-se amigo de pintores como Guido Romano, Sebastiano del Piombo, Francesco Bacchiacca e com eles perambulava noite e dia  pelas ruas da cidade banqueteando e duelando; era um hábil espadachim e, portanto, muito respeitado. 
                   Com a deflagração da guerra entre  a França e a Espanha, após haver devastado a Itália, aproximava-se de Roma. Certa manhã, o alarma difundiu-se subitamente: "Eles estão aqui, sob as muralhas, já entraram!"  Toda a população armou-se, pois já os primeiros lansquenetes irrompiam pelas ruas, ávidos de saque.  Benvenuto, corajosamente, abriu caminho por entre a multidão apavorada, juntou-se a um grupo, refugiando-se no Castelo  Santo Ângelo, armou-se e da torre certeiramente disparava suas espingardas e carabinas; segundo suas palavras, com seu arcabuz matou o Condestável de Borbão, comandante dos invasores. 
                   A luta durou cerca de um mês e, durante esse tempo, o bombardeiro Benvenuto Cellini fulminava as trincheiras inimigas com suas "columbrinas" e seus "falconetti" (espingardas), estrategicamente colocadas nas torres do Castelo Santo Ângelo. Mas, em segredo, procurava também fundir o ouro do pontifício para poder ocultá-lo e assim protegê-lo dos invasores. Este fato, que mais tarde foi usado para caluniá-lo,  aconteceu em 1527, quando tinha poco mais de 26 anos de idade. Entusiasmado com esse eletrizante exercício, foi tentado a tornar-se soldado errante. 
                    Depois de saquearem a cidade, os invasores retiraram-se; Benvenuto, abandonando o rude manejo das armas, voltou a cinzelar vasos e a cunhar moedas, naquele seu atelier, que já era o primeiro da Itália. 
                    Viver entre os poderosos, que por uma calúnia ou um pequeno rancor eram capazes de matar ou envenenar qualquer pessoa, não era muito fácil naquela época; como era de se esperar, Benvenuto granjeara muitos inimigos,  e estes tanto sopraram aos ouvidos do Papa Paulo II (que sucedera Clemente VII), que, um belo dia, foi preso por esbirros armados e atirado ao calabouço, sob acusação de haver roubado ouro e jóias dos cofres pontifícios, durante o saque de Roma.  
                    Na cela do Castelo Santo Ângelo, Benvenuto tinha como companheiro  alguns guardas e um castelão desequilibrado, que muitas vezes se julgava um morcego. Ali, sentindo-se injustiçado, gritava, ameaçava, protestava sua inocência, mas o único resultado que obteve foi ser vigiado ainda mais severamente. Pouco a pouco, em sua mente, foi tomando forma um plano de fuga. 
                    Com um par de tesouras roubadas de um servente, desatarraxou, um após outro, os pregos da porta de sua cela, imitando com cera de limalha as cabeças que ficavam salientes; uma bela noite, fez uma corda de lençóis que rasgara, abriu vagarosamente sua porta com o auxílio de uma adaga, e deslizou pelos corredores escuros e desertos. A parede externa era muito alta, mas o fugitivo, utilizando-se de sua corda  improvisada, fechou os olhos e deixou-se cair. 
                   Sua fuga não teve sucesso e logo foi agarrado e levado novamente ao cárcere; com muita alegria, foi recebido pelo louco castelão, que o trancou na cela mais úmida e imunda que havia, onde enlanguesceu durante muitos meses. Em constante luta contra doenças e a tristeza, maltratado pelos guardas e sempre em perigo iminente de ser morto a qualquer momento (conta-se que tentaram matá-lo, dando-lhe comida com diamante triturado). 
                   Finalmente, já bastante fraco, chegou o dia de sua libertação. Benvenuto, já farto das tramas e traições das cortes italianas, foi embora para a França. Ali ficou a serviço do rei Francisco I. Recebido como um fidalgo, com farta provisão e casa própria, o valentão, afinal, viu que apreciavam e davam valor à sua arte e passou a fabricar estátuas de prata e a montar rubis e brilhantes, com redobrado ardor. Mas, também aqui não tardaram a surgir aventuras, duelos e pauladas. Sorte dele que o rei, homem jovial e ousado, sempre fechava os olhos ante suas escapadas e não se cansava de admirar seus talentos. Foi nessa época que criou o famoso saleiro de ouro, de inestimável valor, que cinzelara para o soberano e ainda se conserva em Paris. 

                 Como era natural, com seu orgulho (aliás, bem justificado), o nosso agitado artista ia, aos poucos, criando um ambiente hostil em torno de si, tanto na corte como entre seus colegas de profissão; por isso e também devido à saudade de sua terra, poucos anos depois, Benvenuto  regressou a Florença, onde passou a trabalhar para o Duque Cosme dei Médici. Aqui ele pretendia executar sua obra prima, que desde muito tempo torturava sua mente, isto é, uma estátua de Perseu, que iria figurar na Loggia dei Lanzi, na maior praça da cidade. 

                 Com muita dedicação, esculpiu a obra que, por longo tempo imaginara. Chegado o tão esperado dia da fusão, a agitação lhe provocou forte febre; por isso, depois de deixar tudo preparado e os ajudantes cuidando do fogo, foi deitar-se  um pouco para descansar. Enquanto descansava, atormentado pela ansiedade e pela doença, eis que entra em seu quarto um homenzinho aleijado,  que mais parecia ter saído de um pesadelo, e lhe anunciou, com voz estrídula: 
                  - Ó, Benvenuto, tua obra foi irremediavelmente perdida!
                  Foi como se tivesse recebido uma chicoteada, o artista saltou da cama, vestiu-se às pressas, e correu para a fornalha, onde viu o fogo quase apagado, uma enorme fumaceira e todos os seus ajudantes, lívidos, junto ao caldeirão, em que o metal já se ia coagulando. Benvenuto parecia um demônio enfurecido; mandou reanimar imediatamente as chamas, apanhou todos os pratos de estanho e atirou-os na caldeira, para diluir o metal, até que, com enorme estrondo, a tampa do forno saltou para o ar e o bronze escorreu, fluído e brilhante, ótimo para preencher o molde. 
                    A estátua de Perseu foi sua última grande tarefa, ao menos de que se tem notícia em suas memórias. Embora sua produção tenha sido imensa, bem pouco, infelizmente, chegou até os nossos dias. 
                    Sua autobiografia, escrita aos sessenta anos, permanece na mais arguta e cintilante prosa que se pode imaginar. Sua história é testemunha atualíssima de uma época que figura entre as mais esplendorosas da Itália e do gênio impulsivo desse incomparável artista. 
                    Como muitos o denominaram, Benvenuto Cellini, pode muito bem ser considerado um tipico italiano do século XVI. Amado e procurado por poderosos, tais como o Papa Clemente VII, o rei Francisco I de França, os nobres florentinos da magnifica corte dos Médicis. 
                    O inveterado aventureiro, por amar a vida, a arte, a luta, a natureza em todas as suas manifestações, fazia falar de si constantemente. Com a mesma facilidade com que criava em torno de si  amigos e admiradores, fazia surgir  acérrimos inimigos, na maior parte invejosos de seu incomensurável talento. 
                     Íntimo de príncipes, reis e papas, poderia ter enriquecido, casado com alguma nobre dama de seu tempo, mas preferia a vida desregrada, a aventura, daí as vicissitudes e perigos que o cercavam. 
                     Muitas vezes foi chamado de cínico, devido ao realismo que imprimiu em suas "Memórias".  
                     Como gravador e cinzelador, porém, ainda não foi igualado, embora poucos de seus trabalhos tenham chegado salvos até nossos dias. Escreveu, ainda, diversos tratados sobre sua arte. 

                     Como era natural, inspirou escritores e compositores, que escreveram obras primas sobre sua agitada existência, destacando-se, entre outras, a ópera de autoria de Heitor Berlioz, com libreto de León de Wailly e Augusto Barbier, em dois atos, representada na Ópera de Paris, em 3 de setembro de 1838, e que assinalou a estréia do famoso maestro francês nesse gênero. Após várias representações na França, foi levada á cena em outros países da Europa, com relativo êxito. 
                     Outra Ópera, em quatro atos, de autoria de Eugênio Dias, foi apresentada, em 1880, sendo famosa sua ária "Da arte esplendor imortal..."
                     Como se vê, trata-se de um estranho personagem, que pode ser considerado um retrato fiel da época em que viveu; uma Itália turbulenta, onde proliferavam várias cortes e repúblicas, e surgiam artistas e espadachins que viviam intensamente, pois, geralmente, suas vidas corriam perigo e era preciso aproveitá-las ao máximo... 
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Nicéas Romeo Zanchett 
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terça-feira, 2 de julho de 2013

INÍCIO DA LITERATURA CRISTÃ- Por Romeo Zanchett


INÍCIO DA LITERATURA CRISTÃ
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                     O cristianismo surgiu na capital do Império Romano no tempo de Cláudio. De lá, estendeu suas conquistas até as províncias mais afastadas do mundo ocidental. No princípio, a nova religião era professada por pessoas de condição humilde, mas aos poucos foi se infiltrando gradualmente nas classes elevadas. 
                     A oposição suscitada pelos defensores do paganismo, nos séculos II e III, e deu como resultado uma literatura  de caráter apologético, que opôs sua réplica contundente aos escritos dos partidários das antigas crenças.  
                     Mais tarde (possivelmente nos séculos IV e V), quando já tinha cessado a época da perseguições, os padres da Igreja ensinam a nova doutrina e os poetas  celebram suas belezas. 
                     Entre os apologistas importantes figuram Tertuliano (155 x 225), polemista fogoso e grande orador; São Cipriano, bispo de Cartago, autor de várias obras, entre elas uma série interessantíssima de Cartas;  Minúcio Félix, que em diálogo de estilo ciceroniano, intitulado Octávio, defendeu com energia os princípios da nova fé;  Também tiveram destaque Lactâncio e muitos outros. 
                     Os principais padres da Igreja foram São Hilário, bispo de Poitiers; Santo Ambrósio, arcebispo de Milão; e São Jerônimo (331 x 420), que além de traduzir o Antigo e o Novo Testamento (a Vulgata), deixou uma coleção de Cartas, de inapreciável valor, extensos escritos dogmáticos e polêmicos, uma Crônica e um tratado do "Varões Ilustres", continuando depois por Genádio, Santo Isidoro e Santo Ildefonso. Para finalizar, temos Santo Agostinho (350 x 430), bispo de Hipona, na África, cujas duas obras principais são "A Cidade de Deus" e "As Confissões", dois dos mais belos livros de todos os tempos. 
                     Os poetas da época também tiveram destaque. Entre eles podemos citar Comodiano, Sidônio Apolinário, Sedúlio, São Paulino de Nola, e o espanhol Marco Aurélio Prudêncio Clemente, que, dotado de fina sensibilidade e de poderosa imaginação, expôs com clareza as teses mais sutis e cantou os heróis da nova crença em hinos cheios de fervor. 
                     Figura de relevo dessa época foi Marco Aurélio, o imperador-filósofo, cuja obra  principal tomou o título de "Meditações". 
                     Como exemplo da filosofia desse grande imperador, que foi um dos maiores  governantes do Império Romano, temos algumas citações:
                    "Lembre-se de que há pessoas que, apesar de serem muito ativas, nada fazem de proveitoso. Cansam-se inutilmente e esgotam suas forças sem aspirarem a um fim determinado, sem obedecer a nenhum plano." 
                     " Deves proceder sempre, pensando que podes morrer quando menos o esperes; mas isso sem temeres a morte. Se há deuses ou Providência, serás salvo; e, se não os houvesse, um mundo sem deuses não é digno de que o homem viva nele."
                      " Devemos de preferência atender às nossas almas, pois os corpos estão perdidos. Hipócrates, que curou tantas  doenças, por fim caiu enfermo e morreu."
                      " Alexandre, Pompeu e Júlio César, que semearam por toda parte a morte e a destruição, acabaram por ser mortos e destruídos. Demócrito foi derrotado pelos vermes e outros vermes destruíram Sócrates." 
                      " Não é absolutamente necessário abandonar a cidade para encontrar a paz. Devemos aprender a maneira de nos separarmos em nós mesmos e assim encontraremos uma paz perfeita, ainda que nos rodeie a multidão." 
                       " Não procedas com se tivesses diante de ti dez mil anos de vida; a morte acotovela-nos. Procura, enquanto vives, servir para alguma coisa que esteja ao alcance de tuas aptidões. Bem depressa serás de novo absorvido por essa força diretora do Universo que te deu a vida." 
                       Marco Aurélio foi um grande sábio; procurou em sua vida, praticar as virtudes que recomendava ao próximo. Diante dessa grandeza, seus erros se apequenaram. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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sexta-feira, 17 de maio de 2013

COMO ENTENDER A ARTE - Por Nicéas Zanchett

COMO ENTENDER A ARTE 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                    Em cada época da história da humanidade existiram artistas com as mais diversas formas de expressão. Cada artista de gênio teve seus próprios meios de expressão; cada obra transmite emoções diferentes; portanto, ao ver uma obra você está contemplando diversos sentimentos. Partindo dessa premissa, podemos dizer que a arte é um sentimento para contemplar. 
                    O primeiro passo para entender uma obra é olhar atentamente, sem se preocupar com o assunto que ele representa.
                    Se a aquela obra é algo que você nunca viu, como por exemplo uma mulher pintada de azul ou um animal cor de rosa, não a condene. Pintura é uma criação, e criação é o poder de abstrair-se da realidade imediata. 
Esta obra eu pintei em 1973; ela representa 
o meu sentimento naquele momento.

                    Outro fator a ser considerado é que não é um bom assunto que faz uma obra boa, mas uma pintura boa, bem trabalhada, torna bom qualquer assunto.
                    A linguagem da música são sons e a da obra de arte são as formas e cores. Quando você houve uma Sinfonia Clássica não fica se perguntando o que ela quer dizer, mas apenas sente a emoção daquele momento. Da mesma forma, não precisa ficar o tempo todo se perguntando o que o artista quis dizer; procure apenas sentir a emoção. 
                    Gostar ou não gostar é uma questão muito pessoal. Deixe que o quadro ou escultura  o absorva, pois, sendo ela uma comunicação visual, cabe a "ela" comunicar-se com você e não o contrário. 
Esta escultura eu criei em 2002.

                    Cada estilo tem linhas próprias de composição. Você poderá observar se essas linhas da composição se desenvolvem sem muitos acidentes ou se, pelo contrário, são extremamente acidentadas. 
                     Ao ver uma pintura, observe as cores; num quadro de estilo coerente, geralmente às linhas calmas sucedem-se cores límpidas e espalhadas regularmente na tela; já às linhas acidentadas correspondem cores violentamente contrastadas. 
                    Caso ele exista, observe o claro-escuro. Os artistas o utilizam para dar uma sensação de terceira dimensão. Ao claro corresponde a parte que se encontra na luz, e ao escuro, o lado da sombra. Escuros e claros devem equilibrar-se. Nos pintores ou estilos  que preferem as cores fortes e linhas serenas, geralmente o claro-escuro é pouco visível, e os quadros parecem ter pouca profundidade. É o normal. 
Esta tela eu pintei em 2004.

                    Cada artista tem suas melhores e piores fases. Isto irá fatalmente se refletir na sua arte. Também cada época e cada indivíduo tem sua época e seu estilo característico. Portanto, não cabe a você querer que pintem igual a um Leonardo da Vinci ou um Ingres. São artistas que viveram em mundos diferentes e próprios e, portanto, impossíveis de serem imitados. 
                    O artista tem sua própria forma de ver o mundo; geralmente não pensa como as outras pessoas. Procure observar se ele deu mais valor aos volumes ou se preferiu dar mais ênfase à cor. No primeiro caso costuma se dizer que é uma pintura de valores escultóricos; no segundo, temos uma pintura de valores cromáticos. Você não pode exigir cores violentas numa pintura de valores escultóricos; na de valores cromáticos não incrimine o pintor de não saber dar volume às figuras. Lembre-se, cada expressão artística representa o sentimento do autor e não os seus sentimentos. Lembre-se também que os sentimentos de uma artistas podem variar infinitamente. 
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Nicéas Romeo Zanchett 




quinta-feira, 9 de maio de 2013

DESENCONTRO - Por Agenor Mário Cattoni

Poesia sobre uma vernissage...


DESENCONTRO 
Por Agenor Mário Cattoni
                      Noite de vernissage...
                      Pinturas, esculturas, 
                      trabalhos em couro e madeira. 
                      As paredes como pedestais. 
                      Etiquetas de títulos, 
                      nones, 
                      preços. 
                      Arte à venda. 
                     Olhos procurando ver, 
                      entender, 
                      consumir. 
                      Copos andando pelas mãos,
                      guloseimas de boca em boca.
                      Risos armados, 
                      alguns alegrinhos, 
                      outros discretamente tristes. 
                      Apertos de mãos, beijos, 
                      abraços e parabéns...
                      Gente entrando, cruzando. 
                      Ninguém pára para ninguém...
                      Vultos buscando vultos. 
                      Fantasmas andando, 
                      Conversando e tateando, 
                      Olfateando o vazio. 
                      Muitos elogios colhidos e dados. 
                      O álcool vai subindo, 
                      a noite vai crescendo 
                      na irracionalidade do finito.
                      O ser vai se negando 
                      na profunda essência
                      de sua existência. 
BIOGRAFIA SIMPLIFICADA
- Agenor Mario Cattoni, filho de pequenos camponeses, nasceu em Rio dos Cedros - Santa Catarina. É licenciado em Filosofia Pura e em Ciências  Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Em 1973, por concurso público, passou a lecionar cadeiras de Sociologia na Universidade Estadual de Londrina - PR.  Em 1980 concluiu o curso de Pós-Graduação em Sociologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo obtendo o grau de Mestre em Ciências Sociais com a defesa da tese "Os espoliados da terra" (estudo sobre a espoliação e proletarização do pequeno camponês brasileiro), sob orientação do professor Dr. Octávio Lanni. 
Deixou o magistério para dedicar-se a atividades particulares. 
Esta poesia "DESENCONTRO" mostra, com genialidade, o cenário de uma vernissage, onde a falsidade, os interesses individuais, o desinteresse e desconhecimento da arte são evidenciados. São inúmeras as pessoas que vão às vernissagens apenas por badalação, degustação e bebidas.
Nicéas Romeo Zanchett  


OBRAS DE ARTE ORIGINAIS E FALSAS- Por Romeo Zanchett

Obra Ilustrativa 
Pintura acrílica de Romeo Zanchett 
OBRAS DE ARTE ORIGINAIS E FALSAS
                     Obra original é aquela cuja autenticidade não existe nenhuma dúvida. 
                     Falsos existiram e existirão sempre, pois o valor financeiro de uma obra de arte acompanha a sua qualidade tal como a sombra acompanha o corpo que a projeta. 
                     Dossena, Batianini, Van Meegeren, foram falsários notáveis, quase geniais.  Na atualidade um dos falsários mais famosos é, sem dúvida, Edgar Mrugalla. Ele próprio diz que já perdeu a conta de quantos quadros copiou para seus clientes, mas calcula que foram mais de 3.500 obras. 
                    Muitas pessoas adquirem obras falsas sabendo da sua real condição. Estão apenas querendo ter na parede uma obra supostamente famosa para expor aos amigos. Na verdade eles não tem nenhum interesse ou amor pela arte, mas apenas as usam para provar sua boa condição social e financeira. Muitas vezes, quando esta pessoa morre ou se desfaz de sua obra falsa, ela acaba no mercado. É por existirem pessoas assim que o mercado de falsário é tão lucrativo. 
                   Cálculos  estimativos indicam que cerca de metade das obras de arte negociadas no mundo são falsas. Sempre são de pintores muito valorizados. Numerosos Van Gogh, 70% dos Chagal, 90% dos Dali. Também pintores como Picasso, Rembrandt, Renoir, Gustav Klint, são os preferidos dos falsários de nossos dias. 
                   No Brasil também possuímos os nossos falsários, alguns ocupados em parodiar a produção de grandes artistas modernos e contemporâneos, para os quais sabem que existe mercado. 
                   É preciso ter a noção nítida e precisa do que se entende por falsificador; alguém que, com finalidade dolosa, forja e passa adiante obras de arte. O aluno que, na Academia, executa uma cópia com finalidade de auto-disciplinar-se, evidentemente, não é um falsário, mas um copista. 
                   Os falsos podem ser facilmente desmascarados pelo olho treinado de um especialista e  (sobretudo no caso de pintura antiga) por exames físico-químicos de laboratório como, por exemplo, o de carbono 14. 
                   Original, cópia, réplica, obra de atelier, obra no estilo de um determinado artista, obra da escola de determinado artista são diferentes noções que convém ter presentes na fixação do preço; ao passo que o falso constitui uma violação da lei e anula o seu preço. 
                   No caso particular da gravura, considera-se original aquela produzida por determinado artista e tirada por ele próprio, ou sob seu controle direto. É preciso saber que também existe muitas gravuras falsas no mercado; elas foram produzidas por falsários, sem o controle ou conhecimento do artista. 
Nicéas Romeo Zanchett 

A ARTE E A NATUREZA - Por Romeo Zanchett

Obra ilustrativa 
Pintura em Paste de Romeo Zanchett 
A ARTE E A NATUREZA 
                     A arte sempre tem o objetivo de nos proporcionar prazer. É pela arte da imitação que produzimos as belezas da natureza. 
                     A escola realista ou naturalista pretende fazer da imitação o fim e a perfeição da arte.  Estabelece como princípio que, sendo verdadeiro somente o real, também só este é belo e sempre belo. É, pois, a negação do ideal.  Aristóteles dizia que qualquer imitação agrada, mesmo quando a visão do objeto real nos deixa indiferentes; e essa imitação é tanto mais interessante quanto melhor se execute e quanto maiores dificuldades ofereça. Todavia, qualquer que seja a importância da natureza, é impossível nela ver, com a escola realista, o fim e a perfeição da arte. 
                     Em sentido geral, e em oposição à natureza, a arte significa qualquer obra executada pela mão do homem. Já, a natureza tem vida própria, independe da vontade do homem. Como afirmava Leibniz sobre a arte divina, cada micro parte da natureza é vida.
                     A imitação, longe de ser o fim da arte, nem sempre  é, por outro lado, a sua condição. É elemento quase que completamente ausente na arquitetura, na poesia lírica; Jamais musico algum tentou exprimir a dor  pela exata reprodução de gritos e soluços. Mesmo o mais sábio dos poetas, não fala espontaneamente por meio de versos, como na poesia dramática, nem por meio de canto, como na ópera. Estaríamos riscando das belas artes o desenho e a estatuária, porque a natureza é sempre colorida e a ilusão é impossível sem cores. Na luta com a realidade, a arte é de antemão vencida e fatalmente condenada a ficar infinitamente abaixo do modelo. Não há como expressar a natureza artisticamente com perfeição; a essa impossibilidade objetiva, temos de acrescentar outra, a subjetiva; porque temos de levar em conta que não há duas pessoas que vejam tanto a natureza como a obra de arte de modo idêntico; o artista jamais vê a realidade tal como ela é, mas sim como é ele mesmo; mesmo inconscientemente põe na sua obra alguma coisa de si próprio que pode até passar despercebido por outros a a veem. 
                     Em presença da realidade, muitas obras primas trágicas são, do ponto de vista visual, insuportáveis; a emoção estética desaparece para dar lugar ao espanto, à indignação e ao horror. 
                     O belo fala à nossa alma e desperta instintivamente o artista a a imitá-lo e a reproduzi-lo. Como afirmava Plotino, admirar é imitar. A admiração estimula a atividade humana e provoca a exaltação fecunda de todas as nossas faculdades; a isso chamamos de inspiração.  A partir daí não nos contentamos mais com o simples fato de compreender a arte, queremos vê-la falar e exprimir o que sentimos.
                     Em certo sentido, mais restrito ainda, a arte se opõe ao ofício; este tem por fim a produção de coisas úteis e ela a produção de coisas belas. Daí porque chamamos a primeira de arte mecânica ou industrial e a segunda de belas artes. É a arte compreendida como expressão refletida da beleza, sob uma forma sensível, que se trata em estética.
                    O artista deverá, pois, reproduzir seu modelo, não servilmente e tal como o encontra na natureza, mas tal como compreende, tal como o sente, tal qual o quer; em outras palavras, deverá pintar não somente a natureza, mas de acordo com com ela e segundo seus sentimentos.
                    A realidade jamais satisfaz plenamente a nossa razão estética. A beleza das coisas nos aparecem sempre mais ou menos incompleta; muitas vezes está velada pelas razões de utilidade, que tornam a impressão vaga e indecisa. O artista tem o dever de interpretar essa linguagem, traduzi-la em sinais claros e inteligíveis, que façam sobressair seu sentido e lhe aumentem o valor estético. Em outros termos, deve idealizar seu modelo de acordo com seus sentimentos.
                    A natureza, seja ela uma paisagem, um corpo ou um objeto, é sempre mais ou menos luxuriante e espessa. Portanto, o primeiro cuidado do artista será cortar os pormenores insignificantes, que o mascaram ou complicam inutilmente. Apos este trabalho preliminar de simplificação, ele deve intensificar os traços característicos, afim de fazê-los mais perceptíveis e mais sensíveis; é dessa forma que imprimirá à sua obra o cunho de sua personalidade, fará dela verdadeiramente a expressão de uma alma, quando embora não pareça senão uma cópia do real. É isso que se endente por expressão individual.    
                    Por tudo isso, se tivermos como objetivo a imitação perfeita, a máquina fotográfica, ou melhor, ainda, um espelho substituem vantajosamente a arte e os artistas.
Nicéas Romeo Zanchett 
http://gotasdeculturauniversal.blogspot.com.br  

terça-feira, 7 de maio de 2013

COMO COMPRAR OBRAS DE ARTE - Por Romeo Zanchett

Obra ilustrativa de Romeo Zanchett 
COMO COMPRAR OBRAS DE ARTE 
                 A obra de arte pode ter um valor financeiro como um imóvel, uma ação na bolsa ou outro bem de valor; e muitos as adquirem como investimento de segurança. No ano de 2007 (data em que escrevi este artigo) a Christies faturou mais de seis bilhões de euros em seus leilões. Isto vem demonstrar que o mercado de arte está aquecido; provavelmente porque havia insegurança no mercado de ações americano em virtude dos problemas financeiros com grandes empresas e bancos daquele país. Nos momentos de crise mundial, a arte  sempre foi um refúgio seguro de investimento.
                 Muitos adquirem arte como prova de bom gosto, distinção social e especialmente para exibi-los aos amigos. Não cabe julgá-los, mas apenas constatar o fato e torcer para que, o que hoje é apenas exibicionismo social, se torne paixão duradoura. 
                 O comprador de arte deve ter em mente os diversos fatores que determinam o real valor de uma obra. 
AUTORIA - Quem é o autor?; trata-se de obra típica desse autor? ; pertence a uma fase ou momento esteticamente importante de sua evolução artística?; certos artistas tornam-se célebres em razão de determinado tema ou motivo; o pintor Pancetti, por exemplo, era marinhista e, portanto suas marinhas têm mais valor, do ponto de vista financeiro.
QUALIDADE - Trata-se de obra importante do autor?; qual sua qualidade, em relação a outras do mesmo autor?.  Nenhum artista, por mais famoso que seja, terá produzido apenas obras primas; há que se fixar o melhor e o pior de sua produção e estabelecer ainda os diversos marcos que se colocam entre esses dois extremos; o preço variará muito, dentro de certos limites, segundo a menor ou a maior qualidade da obra. 
QUANTIDADE - Qual a situação do mercado de arte em relação às obras do autor?; há mais oferta ou mais procura?; o preço de uma obra deverá estar na razão direta de sua qualidade e na inversa de sua quantidade; uma produção abundante, se não controlada por um hábil "marchand", determinará fatalmente  banalização dos preços; por outro lado, uma produção por demais escassa terminará por colocar seu autor fora do mercado. 
TEMAS E DIMENSÕES - Muitas vezes, obras de artistas bem cotados e com excelente qualidade atingem baixo preço devido a seu tema ou às suas dimensões; por exemplo, uma obra com o tamanho da "Batalha dos Guararapes" ou do tamanho de uma caixa de fósforo será sempre de difícil vendagem; lembremo-nos das pretensiosas palavras de Protágoras - "O homem é a medida de todas as coisa". 
ESTADO DE CONSERVAÇÃO - Quanto melhor o estado de conservação, maior o preço; uma obra já restaurada valerá menos que outra íntegra; o estado de conservação de uma obra geralmente é classificado em: A (excelente), B (bom), C (danificado); pequenas restaurações executadas por um profissional consciencioso e capaz não diminuem, a rigor, o preço; é preciso tomar muito cuidado com os falsos restauradores que, infelizmente, no Brasil existem muitos.
PEDIGREE DA OBRA - O grau de autenticidade de uma obra é muito importante para se estabelecer seu valor. Seu pedigree é aferido pelas exposições em que tomou parte, nos livros em que foi citada ou reproduzida, nas coleções a que pertenceu, nos museus em que foi exibida e assim por diante. 
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NOTA FINAL : Dedico esta informações à memória do meu saudoso amigo Jorge Beltrão que sempre me incentivava e dava orientações artísticas. exigindo que tomasse nota de cada detalhe. Para quem não conheceu, Jorge Beltrão foi um dos maiores marchands do Brasil. Proprietário da Montmartre Gallery, no Rio de Janeiro que, por muitos anos, foi o principal ponto de encontro de grandes nomes da arte brasileira, com quem tive o prazer de conviver e trabalhar de 1973 a 1979. 
Nicéas Romeo Zanchett