Minha lista de blogs

sábado, 23 de agosto de 2014

O QUE É UM VERDADEIRO EXPERT

Por Nicéas Romeo Zanchett 
Pintura SAMBISTAS de Romeo Zanchett 
Pastel sobre Papel Canson 
.
                   Hoje se usa com muita prodigalidade o vocábulo expert. Não há um marchand-de-Tableux ou crítico de arte recém improvisado que não o seja. Mas o que é, afinal, um expert? 
                    Meu saudoso amigo Jorge Beltrão, com quem aprendi muita coisa sobre a verdadeira obra de arte, uma vez me disse: "Um homem que em toda a sua vida viu apenas um Di Cavalcanti não pode saber se é bom ou mau. Se viu dois, um terá sido melhor que o outro. Quando tiver visto
e estudado uma centena de obras do mesmo artista, sua opinião terá alguma probabilidade de ser realmente válida. E quando tiver visto mil, estará em vias de se tornar um expert, evidentemente, sobre aquele artista.  Para quem não teve o prazer de conhecer, Jorge Beltrão foi um dos mais conceituados marchands do Brasil. Teve galeria de arte e loja de móveis coloniais na rua São Clemente, 74 , em Botafogo - Rio de Janeiro. Trabalhei com ele de 1973 a 1979). 
                    Um expert é, pois, alguém que pelo estudo profundo e paciente, adquiriu conhecimento particular acerca de um determinado artista ou escola, e pode portanto, com autoridade, emitir opiniões sobre a autenticidade de uma determinada obra pertencente àquele artista, àquele período ou àquela escola.  A ação do expert restringe-se, forçosamente, ao campo do conhecimento de sua especialidade: Uma opinião de Bernard Berenson sobre uma pintura italiana do Renascimento terá logicamente muito maior força que outra opinião do mesmo expert acerca de, por exemplo, um quadro holandês da mesma época. 
                   Evidentemente, mesmo o melhor expert pode equivocar-se (e frequentemente o fazem), ou discordarem entre si. No primeiro caso é prova e logro de que foi vítima o célebre expert holandês  Abraham Bredius atestando a autenticidade de um Vermeer de Delf pintado por Vam Meegeren, autor da obra tão perfeita que o próprio falsário teve de provar em juízo, depois da Segunda Guerra Mundial, que sua pintura era falsa;  no caso, existem opiniões controvertidas de toda uma legião de famosos críticos e historiadores de arte acerca do quadro "Sagrada família", pertencente à Coleção Kress da National Gallery de Washington. 
Veja como divergem as opiniões dos experts:  
 a) Berenson - "autoria entre Catena e o jovem Ticiano" ( e mais tarde, em sua obra Italian Pictures of the Renaissance, algo inopinadamente: "Giorgione"); 
 b) L. Venturi - "É um Catena"; 
 c) Borenius - "Mestre da Natividade Allendale"; 
 d) Longhi  - " É um Gorgione"; 
 e) G.M. Richter - "É um Giorgione, mas a paisagem é de Sebastiano Del Piombo"; 
 f)  H. Tietza - É de um aluno desconhecido de Giovanni Bellini"; 
 g) Venturi - É de um intérprete de Giorgione, mas não do próprio Giorgione". 
  Todos, acima mencionados experts são unânimes em considerar a obra em apreço como pintura de alta qualidade, mas em termos já não de crítica de arte e sim de mercado de arte, porque existe uma enorme diferença de preço entre um autêntico Giorgione e o de um autêntico Catena.
                 Estima-se que atualmente metade das obras de arte negociadas no mundo são falsas. Numerosos Van Gogh, 70% dos Chagal e 90 % dos Salvador Dali. Também  Picasso, Rembrandt, Renoir, Klint, Mache são os preferidos dos falsários de nossos dias. 
                 O falsário pintor alemão Edgar Mrugalla  calcula que já copiou cerca de 3.500 quadros de artistas famosos ao longo da vida. Esta enorme produção de obras falsas cria grandes dificuldades para os experts. 
                  No caso brasileiro o problema das expertises não é tão complexo, nem tão controvertido, pois são artistas recentes e muitos ainda estão vivos. Mesmo para os mortos há ainda, entre os marchands, críticos e amadores de arte, uma lembrança muito nítida das obras mais importantes como, por exemplo, dos criadores do modernismo brasileiro. Apesar disso, nota-se, cada vez mais pronunciado, o aparecimento de obras de importantes artistas no mercado de falsários e possíveis falsos.
                  Os princípios que regem a expertise são os seguintes: 
                  1 - O expert não deve manifestar-se sobre a qualidade da obra e sim limitar-se ao problema de sua autenticidade; 
                  2 - Quem vende uma obra de arte não pode ser ao mesmo tempo o autor de sua expertise;  
                  3 - O expert pode ser responsabilizado juridicamente, sempre que ficar patente a má fé de qualquer expertise, mas não será culpado quando, de plena consciência, tiver expedido uma opinião que depois foi contestada; 
                  4 - O valor de uma expertise acha-se na razão direta do conceito de que goza quem a assina; 
                   5 - Nenhum expert, digno de nome, jamais fará considerações de ordem financeira ou se referirá aos preços do mercado. Limitar-se-á apenas à autenticidade da obra.
Nicéas Romeo Zanchett 
.
               

                  

Nenhum comentário:

Postar um comentário