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quinta-feira, 28 de março de 2013

COMO SE DEVE FAZER UMA TRAGÉDIA - Por Aristóteles

                                                                                   
Uma aula com Aristóteles.

                COMO SE DEVE FAZER UMA TRAGÉDIA - Por Aristóteles

                                                 DOS CARACTERES
   Como a constituição das tragedias mais belas não há de ser simples, mas implexa, e há de ser além disso imitadora de coisas que excitem o terror e a compaixão, porque isto é próprio deste gênero de imitação; segue-se, evidentemente, que nem devem introduzir-se homens muito bons e justos, que passem da fortuna para a desgraça, porque isto não é terrível, nem digno de compaixão, mas sim abominável; nem também homens maus, que passem da desgraça para a fortuna, pois que não há coisa menos trágica, porque lhe faltam todos os requisitos que deve ter a tragédia. Porquanto não é conforme os sentidos da humanidade, nem excita compaixão e terror. 
    Finalmente, também um homem muito mau não deve voltar da felicidade para a infelicidade; porque esta composição, bem que fosse conforme os sentimentos da humanidade, não produzia, contudo, compaixão nem terror;  porque a compaixão tem lugar a respeito do que é infeliz sem o merecer; e o terror a respeito do nosso semelhante desgraçado. Pelo que, neste caso, o que acontece nem parece terrível, nem digno de compaixão. 
    Resta pois o homem que está no meio destes extremos.  Este, é aquele que nem se distingue muito pela virtude e justiça, nem também cai em desgraça pela sua malícia própria, mas sim por algum erro, ou defeito. E há de ser alguma personagem das que estão em glória e felicidade, como Édipo, Thiestes e outros homens ilustres de semelhantes famílias. 
     É pois necessário que uma fábula bem constituída seja antes simples, do que composta, como alguns querem, e que a mudança não seja da desgraça para a fortuna, mas, pelo contrário, da fortuna para a desgraça; e finalmente, que não aconteça por maldade, mas por erro ou defeito grande de alguma pessoa, que seja tal qual dissemos; ou quando não, que antes propenda para melhor, do que para pior.
Isto se prova com a experiência; porque antigamente serviam-se os poetas de quaisquer fábulas, que encontravam; mas hoje as mais belas tragédias tomam o seu assunto de um pequeno número de famílias, como são as de Alcmeon, de Édipo, de Orestes, de Meleagro, de Thiestes, de Telefo, e de quaisquer outros que obraram ou padeceram coisas terríveis. 
     A mais bela tragédia, segundo as regras da arte, é aquela que for composta por este modo. Por isso erram os que culpam Eurípedes por observar estas regras nas suas tragédias, e por dar a muitas delas um êxito infeliz, pois que isto é o que deve ser, como já dissemos.
    A prova mais evidente, é que as tragédias deste gênero parecem as mais trágicas de todas, tanto no teatro como nos certames, se forem bem executadas. E o mesmo Eurípedes, posto que não disponha  bem outras coisas, parece, contudo, ser o mais trágico de todos os poetas.
     Segundo gênero de constituição das fábulas (que alguns põem em primeiro lugar), é o que tem uma constituição composta, como a Odisseia, e que se conclui por um modo contrário ao primeiro, tanto a respeito dos homens bons, como dos maus.   
    Julgou-se que esta merecia o primeiro lugar por imperícia dos teatros, porque os poetas se acomodaram a ela, compondo à vontade e sabor dos espectadores. Porém, o prazer que resulta deste gênero  de composição, é muito mais próprio da comédia que da tragédia; porque nela os que são na fábula inimicíssimos, como Orestes e Egistho, se tornaram por fim amigos, e nenhum deles é morto pelo outro.  

                    DE ONDE DEVE NASCER O TERROR E A COMPAIXÃO
      Pode, pois, excitar-se o terror e a compaixão pelo aparato da cena, e também pelo mesmo contexto das coisas,  o que tem o primeiro lugar, e é na verdade de melhor poeta. 
      Porquanto uma fábula deve estar composta de tal maneira, que quem ouvir as coisas que vão acontecendo, ainda que nada veja, só pelos sucessos se horrorize e se compadeça, como experimentará quem ouvir a tragédia de Édipo. 
     Ora, querer conseguir isto pelo espetáculo, é coisa para que não concorre a arte do poeta, e que depende do aparato e do custo da cena. 
    Também se desviam inteiramente da tragédia os que nos oferecem em espetáculo,não coisas terríveis, mas monstruosas; porque não se há de procurar indistintamente na tragédia qualquer gênero de prazer, porém, somente o que é próprio dela. 
     Como pois o poeta deve por meio da imitação preparar-nos aquele prazer, que nasce da compaixão e do terror, segue-se evidentemente, que ele há de se valer para isso das coisas que representa.


BREVEMENTE CONTINUAÇÃO.

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