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domingo, 9 de março de 2014

A NATUREZA É A VERDADEIRA MUSA DAS ARTES


A NATUREZA É A VERDADEIRA MUSA DAS ARTES
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                   A arte e a natureza são combinações de cores, de linhas, sons e palavras. Ela sempre inspira a arte. Os campos, as matas, as plantas, os rochedos, os animais, o mar, o céu e o próprio homem são musas originais para o artista. 
                   Em toda a obra de arte, a qualidade suprema é o divino natural. Charles Darwin dizia que antes de falar o homem cantou como uma ave.


                   A arte da música traduz as imagens sensíveis de nossa alma. Pela variedade de timbres ela desnuda os nossos sentimentos. 
                   Os ruídos da natureza estão gravados em nossas origens ancestrais e continuam intimamente ligados às nossas fantasias e percepções. 

                   O vento circulando entre as árvores; o som da cachoeira e a permanente inquietude das ondas do mar batendo nas praias, são fontes incessantes para o artista. Os nossos sentidos estão constantemente permutando informações visuais e sonoras com o ambiente onde vivemos. 
                   Todas esses fenômenos naturais são percebidos pela energia cósmica que nos deu vida; é ela que, "através do pensamento" (que é invisível), conecta-se ao cérebro e o faz agir e reagir de acordo com a capacidade intelectual de cada um. A energia vital do artista tem enorme quantidade de conexões com outras energias que circulam pelo cosmos, e é exatamente por isso que recebe informações e as transforma em arte. O artista que nasce sabendo tocar piano, por exemplo, só o faz porque sua energia cósmica está conectada com a "energia cósmica" de alguém que já foi um grande pianista. O pensamento desse artista não tem origem no seu cérebro; ele é um fenômeno invisível que serve para transmitir as informações mandadas pela sua energia e assim, através do cérebro,  ele comanda seu talento para a realização da sua arte.

                  A escultura exprime as formas e faz abstração da cor como qualidade desprezível. Um corpo tem variadas dimensões que projeta em nossos olhos, conforme o ângulo de visão, imagens diferentes. Dessa forma, um olho vê uma imagem diferente da que o outro olho vê. Se fecharmos um olho teremos um formato; invertendo a posição veremos outra imagem. A diferença das duas imagens ou visão binocular nos permite apreciar as perspectivas do objeto e sua extensão em profundeza. 
Escultura de Romeo Zanchett 

                 Já na pitura as imagens se mostram de forma igual para os dois olhos. Assim, a pintura numa tela plana, qualquer que seja o estilo, nos mostra a visão do artista naquele momento que a pintou. 
                 A natureza nos fornece imagens tomadas de vários ângulos, várias distancias e perspectivas. O artista combina-as e expressa em cores a sua visão e sentimentos daquele instante. Portanto, se o mesmo artista pintar a mesma paisagem em momentos diferentes elas serão diferentes, com cores e expressões diversas. 
                  Segundo cálculos de Wallaston, a luz do sol é 800.000 vezes mais intensa que a da lua cheia em noite de céu estrelado.  Estas influências da natureza alteram os nossos sentimentos, ações e formas de expressão. 
                  Se observarmos com acuidade, olhando para o passado, veremos que muitos dos grandes artistas nunca foram compreendidos. É que sua visão de mundo era diferente da visão de outas pessoas. Todo o verdadeiro artista gosta de estar junto à natureza, e o burburinho da cidade lhe incomoda. Mesmo que não possa estar onde deseja, seu pensamento lhe permite viajar no tempo e no espaço como uma águia livre que voa contra o vento. 
Nicéas Romeo Zanchett 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

COMO SE DEVE FAZER UMA TRAGÉDIA - Por Aristóteles

COMO SE DEVE FAZER UMA TRAGÉDIA
Por Aristóteles 
Aristóteles, o grande filósofo grego dá uma aula para quem gosta de escrever tragédias.
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DOS CARACTERES
                 Como a constituição das tragédias mais belas não há de ser simples, mas implexa, e há de ser além disso imitadora de coisas, que excitem o terror e a compaixão, porque isto é próprio deste gênero de imitação; segue-se, evidentemente, que nem devem introduzir-se homens muito bons, e justos, que passem da fortuna para a desgraça, porque isto não é terrível. nem digno de compaixão, mas sim abominável; nem também homens maus, que passem da desgraça para a fortuna, pois que não há coisa menos trágica, porque lhe faltam todos os requisitos que deve ter a tragédia. Portanto não é conforme aos sentimentos da humanidade, nem excita compaixão ou terror. 
                  Finalmente, também um homem muito mau não deve voltar da felicidade para a infelicidade; porque esta composição, bem que fosse conforme os sentimentos da humanidade, não produzia, contudo, compaixão  nem terror; porque a compaixão tem lugar a respeito do que é infeliz sem o merecer; e o terror a respeito do nosso semelhante desgraçado. Pelo que, neste caso, o que acontece nem parece terrível, nem  digno de compaixão. 
                  Resta pois o homem que está no meio destes extremos. Este, é aquele que nem se distingue muito pela virtude e justiça, nem também cai em desgraça pela sua malícia própria, mas sim por algum erro, ou defeito. E há de ser alguma personagem das que estão em glória, e felicidade, como Édipo, Thiestes, e outros homens ilustres de semelhantes família. 
                  É pois necessário que uma fábula bem constituída seja antes simples, do que composta, como alguns querem, e que a mudança não seja da desgraça para a fortuna, mas, pelo contrário, da fortuna para a desgraça; e, finalmente, que não aconteça por maldade, mas por erro, ou defeito grande de alguma pessoa, que seja tal qual dissemos; ou quando não, que antes propenda para melhor, do que para pior. 
                  Isto se prova com a experiência; porque antigamente serviam-se os poetas de quaisquer fábulas, que encontravam; mas hoje as mais belas tragédias tomam o seu assunto de um pequeno número de famílias, como são as de Alemeon, de Édipo, de Orestes, de Meleagro, de Thiestes, de Telefo, e de quaisquer outros que obraram ou padeceram coisas terríveis. 
                   A mais bela tragédia, segundo as regras da arte, é aquela que for composta por este modo. Por isso erram os que culpam Eurípides por observar estas regras nas suas tragédias, e por dar a muitas delas um êxito infeliz,   pois que isto é o que deve ser, como já dissemos. 
                    A prova mais evidente, é que as tragédias deste gênero parecem as mais trágicas de todas, tanto no teatro como nos certames, se forem bem executadas. E o mesmo Eurípides, posto que não disponha bem de outras coisas, parece, contudo, ser o mais trágico de todos os poetas. 
                   Segundo gênero de constituição das fábulas (que alguns põem em primeiro lugar), é o que tem uma constituição composta, como a de Odisseia, e que se conclui por um modo contrário ao primeiro, tanto a respeito dos homens bons, como dos maus.  
                   Julgo-se que esta mereceria o primeiro lugar por imperícia dos teatros, porque os poetas se acomodaram a ela, compondo à vontade e sabor dos espectadores. Porém, o prazer que resulta deste gênero de composições, é muito mais próprio da comédia que da tragédia; porque nela os que são na fábula inimicíssimos, como Orestes e Egistho, se tornaram por fim amigos, e nenhum deles é morto pelo outro. 

DONDE DEVE NASCER O TERROR E A COMPAIXÃO
                    Pode, pois, excitar-se o terror e a compaixão pela aparato da cena, e também pelo mesmo contexto das coisas, o que tem o primeiro lugar, e é na verdade de melhor poeta. 
                    Portanto, a fábula deve estar composta de tal maneira, que quem ouvir as coisas que vão acontecendo, ainda que nada veja, só pelos sucessos se horrorize e se compadeça, como experimentará quem ouvir a tragédia de Édipo. 
                    Ora o querer conseguir isto, pelo espetáculo, é coisa para que não concorre a arte do poeta, e que depende do aparato, e do custo da cena. 
                    Também se desviam inteiramente da tragédia os que nos oferecem em espetáculo, não coisas terríveis, mas monstruosas; porque não se há de procurar indistintamente na tragédia qualquer gênero de prazer, porém, somente o que é próprio dela. 
                     Como pois o pota deve por meio da imitação preparar-nos aquele prazer, que nasce da compaixão e do terror, segue-se evidentemente, que ele se há de valer para isto das coisas qe representa.  

DAS AÇÕES 
                      Estabeleçamos pois, quis dos acontecimentos são terríveis, e quais são dignos de compaixão. Todas as ações, que representam, necessariamente hão de acontecer ou entre amigos, ou entre inimigos, ou entre pessoas indiferentes. 
                      Ora se um um inimigo matar o seu inimigo,  nem na ocasião em que o mata, nem quando se dispõe para matar nos dá motivo algum de compaixão, exceto a que provém da mesma calamidade; assim como também o não dão as pessoas indiferentes. 
                      Quando porém estas calamidade sucedem entre os amigos, por exemplo, quando um irmão mata, ou intenta matar a seu irmão, o filho ao pai, a mãe ao filho, ou o filho à mãe, ou fazem qualquer outra coisa semelhante, então são estes os acontecimentos, que devemos procurar. 
                      Não é porém permitido destruir as fábulas recebidas; por exemplo, que Clitemnestra foi morta por Orestes, e Erifile por Alcmeon; mas deve-se achar a fábula, e usar bem das que estiverem recebidas. 
                      Expliquemos com mais clareza a que chegamos usar bem. Por quanto a ação ou pode assim ser feita por pessoas que sabem, e conhecem o que fizeram (como os antigos praticavam), e desta maneira representou Eurípedes a Medea matando a seus filhos: ou pode ser feita por pessoas que ignoram a atrocidade da ação, e estas conheceram depois a aliança, que tinham com os ofendidos, assim como o Édipo de Sófocles. (Aí porém sucede isto fora da tragédia; na mesma tragédia o introduziram, por exemplo, Astidamente  no Alcmeon e Telegono no Ulisses ferido). Ou ultimamente, e em terceiro lugar, quando aquele, que vai a cometer por ignorância alguma ação atroz, a a reconhece antes de a executar. não há outro modo além destes, porque necessariamente a ação ou se há de fazer, ou não fazer; e as pessoas ou hão de saber, ou hão de ignorar o que cometem. 
                      De todos estes modos o péssimo é quando aquele que conhece e intenta fazer o mal, ou não chega a executar, porque isto é abominável, e não é trágico, pois que não pode mover os afetos.  Pelo que os poetas não representam coisas semelhantes, senão raras vezes; assim como Emon na Antigone, que quer matar a Creonte. Por quanto ainda vale mais, que o que conhece a maldade, a chegue a executar. 
                      É porém melhor, que o autor do crime o ignore, e que depois de feito o reconheça. Porém então nisto não há coisa alguma abominável, e vem a ser a agnição muito patética. 
                      Porém p último modo é o melhor de todos; por exemplo, na tragédia de Cresfonte está Merope a ponto de matar seu filho; mas não o mata, porque emfim o reconhece . Na Ifigênia sucede o mesmo à irmã a respeito de seu irmão. E na Helle, quando o filho vai para entregar sua mãe, então é que a reconhece. 
                     Por esta razão, como já dissemos em outro lugar, não há muitas famílias, de que se possam tirar assuntos para as tragédias. Porque como os poetas não tiravam os assuntos da invenção da sua arte, mas por acasos da fortuna, somente inventaram o modo de os acomodar na constituição das fábulas. Por isso são eles obrigados a vir encontrar-se com todas aquelas famílias, a quem aconteceram semelhantes calamidades. Temos pois dito quanto basta acerca da constituição das cousas, e de quais devam ser as fábulas. 
Dando aula. 

DOS COSTUMES 
                    Acerca dos costumes há quatro coisas, que se devem procurar. A primeira e a principal é que eles sejam bons.  Ora  haverá costumes, se as palavras, ou as ações derem a conhecer alguma propensão ou inclinação; e serão maus, se ela for má; e bons, se ele for boa. Acha-se isto em todo o gênero de pessoas; porque também há mulheres, e escravos bons, posto que elas tenham talvez mais maldade, e que estes sejam inteiramente perversos. 
                    Em segundo lúgar devem ser convenientes; porque  a fortaleza varonil é um costume, e todavia não convém a uma mulher o ser varonil ou terrível. 
                    Em terceiro lugar hão de ser semelhantes entre si, pois que isto é diverso do fazer os costumes  bons e convenientes, como fica dito. 
                    Em quarto lugar devem ser iguais; porque ainda que imitemos um homem desigual e representemos semelhante costume, contudo ele deve ser igualmente desigual. 
                    Temos exemplo de costumes maus introduzidos sem necessidade em Menelao no Orestes; de costumes indecorosos e não convenientes na lamentação de Ulisses na Scilla, e na fala de Menalippe; de costumes desiguais na Ifigênia em Aulis; porque a Ifigênia, que ao princípio suplica, não se parece ao depois consigo mesma. 
                    Também nos costumes, assim como na constituição das coisas, se há de procurar sempre ou o necessário, ou o verosímil, e que os acontecimentos sucedam uns aos outros ou segundo a necessidade, ou segundo a verosimilhança. 
                    É pois manifesto, que a solução das fábulas devem resultar do contexto da mesma fábula, e não de maquina, como a Mdea e na  Ilíada  no lugar em que se trata da retirada por mar. 
                   Mas pode-se usar da máquina no que é de fora da tragédia, ou naquelas que aconteceram antes, as quais não é possível que os homens saibam; ou naquelas que hão de suceder depois, que necessitam de ser prognosticadas, e anunciadas dantes; porque nós atribuímos aos deuses o poder de verem tudo. 
                    Não deve pois haver nos sucessos que se representam, coisa alguma que se não conforme com a razão, exceto se for fora da tragédia, como se faz no Édipo de Sófocles. 
                    Como porém a tragédia é a imitação dos melhores homens, é necessário que imitemos os bons pintores, porquanto estes, dando a todos a sua própria figura e  representando-os com semelhança, os pinta, os pintam contudo mais formosos; assim também o poeta, que imita homens iracundos ou arrebatados ou com outros semelhantes costumes, deve formar um modelo de cólera, segundo a verosimilhança, assim como Homero e Agathon representaram a Aquiles.  
                    Portanto há de se atender cuidadosamente a estas coisas, e depois disso aos sentidos que acompanham a poética, além das coisas que são necessidade; porque nisto nos enganamos muitas vezes; mas já tratamos deste ponto na obra que publicamos. 
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DAS DIFERENTES ESPÉCIES DE AGNIÇÃO 
                   Já acima dissemos que coisa seja agnição. As espécies de agnição são estas: a primeira (que é a de menos artifício, e de que usam quase todos por falta de invenção) é a que se faz pelos sinais. Destes, uns são naturais, como a lança, que em si trazem os filhos da terra, ou as estrelas, de que usou Carcino do Thiestes; e outros são estranhos e destes uns são no corpo, como as cicatrizes; e outros externos como os colares, e como o berço do Tiro. 
                   Destes sinais se pode usar uma vezes melhor e outras pior; por exemplo, Ulisses foi reconhecido pela cicatriz de um modo pela sua ama, e de outro modo diverso pelos porqueiros; porquanto as agnições que se fazem para persuadir alguma coisa, e todas as mais deste gênero, são as menos engenhosas; e as que nascem da peripécia, como a que se faz quando a ama lava os pés de Ulisses, são as melhores. 
                   A segunda espécie de agnição é a que inventa o poeta, e por isso mesmo não tem artifício. Por exemplo, Orestes na Ifigênia reconheceu sua irmã, e foi por ela reconhecido. Ela foi reconhecida pela carta, porém ele pelos sinais. Neste caso pois diz o poeta o que quer, e não o que quer a fábula; pelo que quase cai no defeito acima dito; pois que ele podia introduzir outras quaisquer coisas. Outro exemplo  é a vós da lançadeira no Térreo de Sófocles. 
                    A terceira espécie é a que se faz pela memória, pela que sente aquele que vê alguma coisa, assim como nos Cíprios de Diógenes, porque aí o que viu uma pintura se pôs a chorar; e a que se faz na narração de Alcino, porque ouvindo Ulisses um tangedor de cítara, e recordando-se, chorou, e desta maneira foram reconhecidos. 
                    A quarta é a que se faz por silogismo, como nos Coeforos, porquanto tinha vindo alguém, que era semelhante; ninguém é semelhante senão Orestes; logo o que veio é Orestes. E a do sofista Polyido na sua Ifigênia, porque era provável, que Orestes discorresse, que se sua irmã tinha sido sacrificada, também ele o havia de ser. E a que se faz no Tídeo de Theodctes, que vindo para procurar seu filho, ele mesmo tinha sido morto. E nas Tineides, porque vendo elas o lugar, coligiram daí o seu fado e que estava destinado que morressem nesse lugar, porque ali tinham sido expostas. 
                    Também há um modo de agnição, que se faz por um paralogismo dos espectadores, como no Ulisses falso núncio, porque ele disse que havia de conhecer o arco, que não tinha visto; e os espectadores, como se ele o houvesse de conhecer, fizeram daqui um raciocínio falso. 
                    Ora a melhor agnição de todas é a que nasce dos mesmos incidentes, conciliando-se a admiração por coisas prováveis, assim como a do Édipo de Sófocles, e da Ifigênia (sendo provável, que ele quisesse enviar cartas). Porquanto só as deste gênero se fazem sem ninais inventados nem colares. Depois destas seguem-se as que se fazem por silogismo. 

DO MÉTODO DE COMPOSIÇÃO 
                   Deve pois o poeta ordenar as fábulas, e representá-las com palavras, tendo-as presentes aos olhos o mais que lhe for possível; porque desta sorte vendo as coisas clarissimamente, como se estivesse presente aos mesmos sucessos, descobrirá o que convém e não lhe escapará coisa algum que for contrária e repugnante. 
                   É a prova disto o que se repreende a Carcino, porque em uma tragédia, Amfiarao saía do templo sem o saberem os espectadores, que o não viam, e por esta razão indignados disto a não sofrerem no teatro. 
                   Deve também representar exatamente tudo quanto lhe for possível, com os gestos e ações. Porque, segundo a mesma natureza, ninguém persuade tão bem como os que estão possuídos de paixão; por isso o que está violentamente agitado, e o irado faz irar verdadeiramente os mais. 
                   Pelo que a poesia ou é para homens de excelente engenho ou para os que tem furor e entusiasmo; porque aqueles são fáceis em fingir e estes transportam-se e saem de si.  
                   Portanto, é necessário que o poeta disponha em geral tanto as fábulas já feitas, como as que ele mesmo faz, e que forme depois os episódios e entrelace as circunstâncias. 
                   A que eu chamo considerar de fábula em geral, vê-se neste exemplo. Estando para ser sacrificada a donzela Ifigênia, e desaparecendo ocultamente dos olhos dos sacrificadores, foi estabelecer-se em outra terra, onde era lei que os estrangeiros fossem sacrificados à deusa, e ali ocupou o sacerdócio deste templo. Pelo tempo adiante sucedeu vir ali o irmão da mesma sacerdotisa. E porque motivo? Porque um oráculo assim o determinara por alguma coisa (o vir ele é fora da ideia geral; e o motivo por que veio, é alheio da fábula). Vindo, pois, e sendo preso e estando a ponto de ser sacrificado, fez-se o reconhecimento, ou da maneira que fingiu Eurípides, ou (como fez Poliides) dizendo como era verosímil, que não bastava que sua irmã tivesse sido sacrificada, mas que também ele o tinha de ser; e daqui lhe vem a salvação. 
                    Depois disto deve logo por os nomes às pessoas e formar os episódios, advertindo que sejam próprios, assim como no Orestes a doidice, porque foi preso, e o seu livramento pelas espiações. 
                    Nos dramas pois são os episódios breves; mas a epopeia maior extensão recebe deles. Por quanto a fábula da Odisseia é dilatada. Um homem, que anda peregrinando pelo espaço de muitos anos, perseguido de Netuno, e restando ele só dos seus companheiros, e que seguem além disto os seus negócios domésticos em tal estado, que os pretendentes de sua mulher lhe consomem seus bens, e lhe armam traições ao filho, chega à casa combatido das tempestades, e reconhecendo a uns e atacando a outros, por fim se salva e destrói seus inimigos.  Eis aqui pois, o que é próprio; tudo o mais são episódios. 
Aqui termina esta maravilhosa aula de Aristóteles

BREVE BIOGRAFIA 
                Aristóteles, o grande filósofo grego, nasceu em Stagira, na Macedônia, em 384 a.C.  Seu pai foi amigo e médico dopai do re Fillipe. Era criança quando ficou órfão; aos 18 anos foi estudar filosofia em  Atenas e logo que Platão voltou de Siracusa, três anos depois de sua entrada em Atenas, seguiu o ensino do grande filósofo até a sua morte. Depois da morte de Platão, Aristóteles passou `a corte do seu antigo discípulo Hermias, novo  tirano de  Atarne, defronte de Lesbos. Três anos depois, Hermias foi morto por traição e Aristóteles fugiu para Mitilene com a irmã de Hermias, com quem casou. Passados dois anos, em 342 a.C., Felipe chamou-o à Macedônia para ele se encarregar da educação de seu filho Alexandre, que então estava com 13 anos. Em 334 a.C., quando Alexandre invadiu a Ásia, voltou para Atenas e abriu uma escola de filosofia no Peripatos, ou passeio coberto do Liceu. Depois da morte de Alexandre,  Aristóteles foi perseguido com impiedade, como Sócrates, e retirou-se para Chalcis na Eubeia, onde morreu no ano 322 a.C. As suas obras compreendiam 146 volumes (dos quais 100 se perderam) e neles está sistematizada toda a ciência da antiguidade. Das obras que chegaram até nós, as principais são: a Lógica, as Éticas, a Política, a Metafísica, a Poética, a Retórica, a Física, História natural dos animais, a Geração dos animais, o Tratado do Céu, a Meteorologia, etc. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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domingo, 2 de fevereiro de 2014

A VIDA EXISTE GRAÇAS À ENERGIA CÓSMICA

A VIDA EXISTE GRAÇAS À ENERGIA CÓSMICA 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                     Todos nós, animais e plantas somos energia pura. Aquilo que chamamos de corpo é apenas uma pequena parte dessa energia que só foi possível por uma engenhosa formação de água e minerais. O sol é a fonte de energia (cósmica) que permite a existência da vida (energia vital). Se ele apagasse, toda a vida deixaria de existir imediatamente. 
                     Podemos dizer que o sol é uma usina que possui imensa quantidade de energia em seu núcleo. Está em permanente erupção e projeta "faiscas" que se expandem pelo espaço até os limites do seu poder ou domínio. Estas "faiscas"  formaram os planetas que o circundam. Entre estes planetas está a Terra, cuja formação com diversos minerais e água, permite a existência da vida. Se pusermos uma semente saudável sobre a terra e a cobrirmos para não receber a luz solar ela não germinará, simplesmente se desintegrará. Mas se permitirmos que receba a energia solar (cósmica) ela germinara e se transformará numa bela planta ou até numa frondosa árvore. 
                    O mesmo acontece com os "seres" animais, entre eles o "ser" humano. Todo o animal ou planta, se forma pela engenhosa combinação do DNA de seu gerador (os pais). Dessa forma, um besouro gerará outro besouro, um pinhão gerará um pinheiro, uma vaca gerará um bezerro e a mulher gerará um bebê, sua imagem e semelhança. 
                    Recentemente os cientistas descobriram que todos nós ainda possuímos genes do homem de Neanderthal, que existiu a cerca de 40 mil anos. Portanto somos a reencarnação de todos os nossos ancestrais. Está é, portanto, a verdadeira reencarnação, que naturalmente, sendo um fato científico, nada tem a ver com opiniões, crenças religiosas ou doutrinas. É apenas uma questão científica que cada dia mais nos aproxima da verdadeira origem da vida. 

                     A energia cósmica vinda do sol está dispersa e ocupando todos os espaços. No momento em que uma planta ou um ser animal nasce, recebe parte dessa "energia pura" que se transforma em "energia vital" . No caso dos animais (entre eles os seres humanos) enquanto estiver ligado  (pelo cordão umbilical) ao corpo que o gerou, estará recebendo "energia vital" desse corpo; no momento da separação passa imediatamente a ter sua própria energia, que é autônoma e insubordinada. Aí começa uma nova vida independente. Ela durará o tempo que esse corpo tiver condições de se manter. No momento que ele adoecer gravemente, envelhecer ou simplesmente tiver algum órgão vital inutilizado, a energia que lhe deu vida se retirará e o corpo se desintegrará, voltando a ser água e minerais. É o que chamamos erroneamente de morte. Porque a morte literalmente não existe; existe apenas a decomposição de um corpo que perdeu sua "energia vital".  Quanto à energia, que deu vida àquele corpo, imediatamente voltará a seu estado anterior, ou seja, de energia pura. Essa energia continuará seu caminho pelo universo, mas, de alguma forma sempre estará conectada a outras energias semelhantes. E assim ela poderá voltar a dar "energia vital" a algum semelhante e muitas vezes bem próximo do anterior. Pode até ser da mesma família e assim ter o mesmo genoma.  Mas é preciso compreender que não se trata de uma "reencarnação" e sim de uma nova "encarnação", dando "energia vital" a um novo corpo que continuará evoluindo e agregando novos genomas que irão evoluir no tempo.  Dessa forma o mundo que conhecemos continuará, num permanente ciclo de "nascimento" e"morte"; e isso só acabará quando o sol esgotar toda sua energia cósmica e apagar-se definitivamente. Nesse momento toda a vida, que depende dele, simplesmente deixará de existir. 
                    Encarnação é inevitavelmente dependente de matéria (minerais e água). Já a energia cósmica é pura e invisível, e  por si só não pode possuir carne ou matéria. Pode apenas transmitir "energia vital" a um novo corpo de acaba de nascer. 
                    As religiões e outras doutrinas acreditam, não por provas científicas, mas sim por imaginação, que a energia (que chamam de alma ou espírito) reencarna em outros seres que nascem. Mas a verdadeira reencarnação acontece com a transmissão genética de um ser para seus descendentes.  Portanto, cada ser que existe é a reencarnação de todos os antepassados dos quais possui algum vestígio de genoma. Isso acontece não somente com os animais (entre eles o homem), mas também com todas as plantas e vegetais que existe.
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 Nicéas Romeo Zanchett 

VEJA >> MÚSICAS SELECIONADAS

sábado, 10 de agosto de 2013

BENVENUTO CELLINI - Por Nicéas Romeo Zanchett



BENVENUTO CELLINI 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                    A estranha e legendária figura de Benvenuto Cellini, chegou até nós em esplêndida e sincera autobiografia, mas sempre permanecerá como um símbolo da atribulada época em que viveu.  Seu talento artístico legou ao mundo grandes obras escultóricas. Mas existe outra lado desse grande artista que poucos conhecem. 
                    Era muito briguento, grande espadachim, boêmio, aventureiro, cheio de vícios. Contudo, graças á sua genial arte, em que punha seu incomparável talento, tudo lhe foi perdoado.
                    Nasceu em Florença a 03 de Novembro de 1.500 e nesta mesma cidade, faleceu em 13 de Fevereiro de 1571. Seu pai, Giovanni Cellini,  era proprietário de terras rurais, construía e tocava instrumento musicais. 
                    " Senhor Michelagnolo Bandinelli , este é um dos meus filhos; pequeno, como o vê, mas desenha maravilhosamente e gostaria muito que lhe ensinasse um pouco de sua arte. Na verdade, ele toca pífaro tão bem que desejaria fazer dele um músico; mas parece que a sua preferência  é para esculpir e borrar papéis...." 
                    Foi com estas palavras proferidas por seu pai que Benvenuto Cellini entrou no atelier do Maestro Michelagnolo onde começou a trabalhar de buril e agravar pedras preciosas. Aos poucos foi se tornando senhor de todos os segredos da profissão; ninguém possuía olho tão experiente em pesar safiras e esmeraldas, nem a mão tão leve para lidar com ouro como aquele adolescente florentino de olhar atrevido e engenho afiado como a lâmina de uma espada. Mas, era tão ágil com amente quanto com a língua  e com a mão; era briguento e seu punhal facilmente saltava da bainha por qualquer ninharia, por um gracejo, ou por um simples olhar que não lhe agradasse. Como era previsto, um certo dia suscitou tamanho alvoroço de gritos e pauladas, que foi obrigado, para não ser preso, fugir de Florença para Roma. 
                   Naquela época a Corte do papa Clemente VII chamava para junto de si todos os bons artistas e literatos da Itália. Com apenas vinte e três anos, Benvenuto Cellini, recebeu a primeira encomenda e fabricou um par de brincos, que provocaram infinitos aplausos, como também uma grande quantidade de inveja pelo seu talento. 
                   Como astuto florentino que era, tinha ótimo trânsito entre os senhores arrogantes e vingativos, colegas manhosos e pérfidos; infiltrava-se habilmente nas intrigas e nos mexericos da corte; tornou-se amigo de pintores como Guido Romano, Sebastiano del Piombo, Francesco Bacchiacca e com eles perambulava noite e dia  pelas ruas da cidade banqueteando e duelando; era um hábil espadachim e, portanto, muito respeitado. 
                   Com a deflagração da guerra entre  a França e a Espanha, após haver devastado a Itália, aproximava-se de Roma. Certa manhã, o alarma difundiu-se subitamente: "Eles estão aqui, sob as muralhas, já entraram!"  Toda a população armou-se, pois já os primeiros lansquenetes irrompiam pelas ruas, ávidos de saque.  Benvenuto, corajosamente, abriu caminho por entre a multidão apavorada, juntou-se a um grupo, refugiando-se no Castelo  Santo Ângelo, armou-se e da torre certeiramente disparava suas espingardas e carabinas; segundo suas palavras, com seu arcabuz matou o Condestável de Borbão, comandante dos invasores. 
                   A luta durou cerca de um mês e, durante esse tempo, o bombardeiro Benvenuto Cellini fulminava as trincheiras inimigas com suas "columbrinas" e seus "falconetti" (espingardas), estrategicamente colocadas nas torres do Castelo Santo Ângelo. Mas, em segredo, procurava também fundir o ouro do pontifício para poder ocultá-lo e assim protegê-lo dos invasores. Este fato, que mais tarde foi usado para caluniá-lo,  aconteceu em 1527, quando tinha poco mais de 26 anos de idade. Entusiasmado com esse eletrizante exercício, foi tentado a tornar-se soldado errante. 
                    Depois de saquearem a cidade, os invasores retiraram-se; Benvenuto, abandonando o rude manejo das armas, voltou a cinzelar vasos e a cunhar moedas, naquele seu atelier, que já era o primeiro da Itália. 
                    Viver entre os poderosos, que por uma calúnia ou um pequeno rancor eram capazes de matar ou envenenar qualquer pessoa, não era muito fácil naquela época; como era de se esperar, Benvenuto granjeara muitos inimigos,  e estes tanto sopraram aos ouvidos do Papa Paulo II (que sucedera Clemente VII), que, um belo dia, foi preso por esbirros armados e atirado ao calabouço, sob acusação de haver roubado ouro e jóias dos cofres pontifícios, durante o saque de Roma.  
                    Na cela do Castelo Santo Ângelo, Benvenuto tinha como companheiro  alguns guardas e um castelão desequilibrado, que muitas vezes se julgava um morcego. Ali, sentindo-se injustiçado, gritava, ameaçava, protestava sua inocência, mas o único resultado que obteve foi ser vigiado ainda mais severamente. Pouco a pouco, em sua mente, foi tomando forma um plano de fuga. 
                    Com um par de tesouras roubadas de um servente, desatarraxou, um após outro, os pregos da porta de sua cela, imitando com cera de limalha as cabeças que ficavam salientes; uma bela noite, fez uma corda de lençóis que rasgara, abriu vagarosamente sua porta com o auxílio de uma adaga, e deslizou pelos corredores escuros e desertos. A parede externa era muito alta, mas o fugitivo, utilizando-se de sua corda  improvisada, fechou os olhos e deixou-se cair. 
                   Sua fuga não teve sucesso e logo foi agarrado e levado novamente ao cárcere; com muita alegria, foi recebido pelo louco castelão, que o trancou na cela mais úmida e imunda que havia, onde enlanguesceu durante muitos meses. Em constante luta contra doenças e a tristeza, maltratado pelos guardas e sempre em perigo iminente de ser morto a qualquer momento (conta-se que tentaram matá-lo, dando-lhe comida com diamante triturado). 
                   Finalmente, já bastante fraco, chegou o dia de sua libertação. Benvenuto, já farto das tramas e traições das cortes italianas, foi embora para a França. Ali ficou a serviço do rei Francisco I. Recebido como um fidalgo, com farta provisão e casa própria, o valentão, afinal, viu que apreciavam e davam valor à sua arte e passou a fabricar estátuas de prata e a montar rubis e brilhantes, com redobrado ardor. Mas, também aqui não tardaram a surgir aventuras, duelos e pauladas. Sorte dele que o rei, homem jovial e ousado, sempre fechava os olhos ante suas escapadas e não se cansava de admirar seus talentos. Foi nessa época que criou o famoso saleiro de ouro, de inestimável valor, que cinzelara para o soberano e ainda se conserva em Paris. 

                 Como era natural, com seu orgulho (aliás, bem justificado), o nosso agitado artista ia, aos poucos, criando um ambiente hostil em torno de si, tanto na corte como entre seus colegas de profissão; por isso e também devido à saudade de sua terra, poucos anos depois, Benvenuto  regressou a Florença, onde passou a trabalhar para o Duque Cosme dei Médici. Aqui ele pretendia executar sua obra prima, que desde muito tempo torturava sua mente, isto é, uma estátua de Perseu, que iria figurar na Loggia dei Lanzi, na maior praça da cidade. 

                 Com muita dedicação, esculpiu a obra que, por longo tempo imaginara. Chegado o tão esperado dia da fusão, a agitação lhe provocou forte febre; por isso, depois de deixar tudo preparado e os ajudantes cuidando do fogo, foi deitar-se  um pouco para descansar. Enquanto descansava, atormentado pela ansiedade e pela doença, eis que entra em seu quarto um homenzinho aleijado,  que mais parecia ter saído de um pesadelo, e lhe anunciou, com voz estrídula: 
                  - Ó, Benvenuto, tua obra foi irremediavelmente perdida!
                  Foi como se tivesse recebido uma chicoteada, o artista saltou da cama, vestiu-se às pressas, e correu para a fornalha, onde viu o fogo quase apagado, uma enorme fumaceira e todos os seus ajudantes, lívidos, junto ao caldeirão, em que o metal já se ia coagulando. Benvenuto parecia um demônio enfurecido; mandou reanimar imediatamente as chamas, apanhou todos os pratos de estanho e atirou-os na caldeira, para diluir o metal, até que, com enorme estrondo, a tampa do forno saltou para o ar e o bronze escorreu, fluído e brilhante, ótimo para preencher o molde. 
                    A estátua de Perseu foi sua última grande tarefa, ao menos de que se tem notícia em suas memórias. Embora sua produção tenha sido imensa, bem pouco, infelizmente, chegou até os nossos dias. 
                    Sua autobiografia, escrita aos sessenta anos, permanece na mais arguta e cintilante prosa que se pode imaginar. Sua história é testemunha atualíssima de uma época que figura entre as mais esplendorosas da Itália e do gênio impulsivo desse incomparável artista. 
                    Como muitos o denominaram, Benvenuto Cellini, pode muito bem ser considerado um tipico italiano do século XVI. Amado e procurado por poderosos, tais como o Papa Clemente VII, o rei Francisco I de França, os nobres florentinos da magnifica corte dos Médicis. 
                    O inveterado aventureiro, por amar a vida, a arte, a luta, a natureza em todas as suas manifestações, fazia falar de si constantemente. Com a mesma facilidade com que criava em torno de si  amigos e admiradores, fazia surgir  acérrimos inimigos, na maior parte invejosos de seu incomensurável talento. 
                     Íntimo de príncipes, reis e papas, poderia ter enriquecido, casado com alguma nobre dama de seu tempo, mas preferia a vida desregrada, a aventura, daí as vicissitudes e perigos que o cercavam. 
                     Muitas vezes foi chamado de cínico, devido ao realismo que imprimiu em suas "Memórias".  
                     Como gravador e cinzelador, porém, ainda não foi igualado, embora poucos de seus trabalhos tenham chegado salvos até nossos dias. Escreveu, ainda, diversos tratados sobre sua arte. 

                     Como era natural, inspirou escritores e compositores, que escreveram obras primas sobre sua agitada existência, destacando-se, entre outras, a ópera de autoria de Heitor Berlioz, com libreto de León de Wailly e Augusto Barbier, em dois atos, representada na Ópera de Paris, em 3 de setembro de 1838, e que assinalou a estréia do famoso maestro francês nesse gênero. Após várias representações na França, foi levada á cena em outros países da Europa, com relativo êxito. 
                     Outra Ópera, em quatro atos, de autoria de Eugênio Dias, foi apresentada, em 1880, sendo famosa sua ária "Da arte esplendor imortal..."
                     Como se vê, trata-se de um estranho personagem, que pode ser considerado um retrato fiel da época em que viveu; uma Itália turbulenta, onde proliferavam várias cortes e repúblicas, e surgiam artistas e espadachins que viviam intensamente, pois, geralmente, suas vidas corriam perigo e era preciso aproveitá-las ao máximo... 
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Nicéas Romeo Zanchett 
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terça-feira, 2 de julho de 2013

INÍCIO DA LITERATURA CRISTÃ- Por Romeo Zanchett


INÍCIO DA LITERATURA CRISTÃ
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                     O cristianismo surgiu na capital do Império Romano no tempo de Cláudio. De lá, estendeu suas conquistas até as províncias mais afastadas do mundo ocidental. No princípio, a nova religião era professada por pessoas de condição humilde, mas aos poucos foi se infiltrando gradualmente nas classes elevadas. 
                     A oposição suscitada pelos defensores do paganismo, nos séculos II e III, e deu como resultado uma literatura  de caráter apologético, que opôs sua réplica contundente aos escritos dos partidários das antigas crenças.  
                     Mais tarde (possivelmente nos séculos IV e V), quando já tinha cessado a época da perseguições, os padres da Igreja ensinam a nova doutrina e os poetas  celebram suas belezas. 
                     Entre os apologistas importantes figuram Tertuliano (155 x 225), polemista fogoso e grande orador; São Cipriano, bispo de Cartago, autor de várias obras, entre elas uma série interessantíssima de Cartas;  Minúcio Félix, que em diálogo de estilo ciceroniano, intitulado Octávio, defendeu com energia os princípios da nova fé;  Também tiveram destaque Lactâncio e muitos outros. 
                     Os principais padres da Igreja foram São Hilário, bispo de Poitiers; Santo Ambrósio, arcebispo de Milão; e São Jerônimo (331 x 420), que além de traduzir o Antigo e o Novo Testamento (a Vulgata), deixou uma coleção de Cartas, de inapreciável valor, extensos escritos dogmáticos e polêmicos, uma Crônica e um tratado do "Varões Ilustres", continuando depois por Genádio, Santo Isidoro e Santo Ildefonso. Para finalizar, temos Santo Agostinho (350 x 430), bispo de Hipona, na África, cujas duas obras principais são "A Cidade de Deus" e "As Confissões", dois dos mais belos livros de todos os tempos. 
                     Os poetas da época também tiveram destaque. Entre eles podemos citar Comodiano, Sidônio Apolinário, Sedúlio, São Paulino de Nola, e o espanhol Marco Aurélio Prudêncio Clemente, que, dotado de fina sensibilidade e de poderosa imaginação, expôs com clareza as teses mais sutis e cantou os heróis da nova crença em hinos cheios de fervor. 
                     Figura de relevo dessa época foi Marco Aurélio, o imperador-filósofo, cuja obra  principal tomou o título de "Meditações". 
                     Como exemplo da filosofia desse grande imperador, que foi um dos maiores  governantes do Império Romano, temos algumas citações:
                    "Lembre-se de que há pessoas que, apesar de serem muito ativas, nada fazem de proveitoso. Cansam-se inutilmente e esgotam suas forças sem aspirarem a um fim determinado, sem obedecer a nenhum plano." 
                     " Deves proceder sempre, pensando que podes morrer quando menos o esperes; mas isso sem temeres a morte. Se há deuses ou Providência, serás salvo; e, se não os houvesse, um mundo sem deuses não é digno de que o homem viva nele."
                      " Devemos de preferência atender às nossas almas, pois os corpos estão perdidos. Hipócrates, que curou tantas  doenças, por fim caiu enfermo e morreu."
                      " Alexandre, Pompeu e Júlio César, que semearam por toda parte a morte e a destruição, acabaram por ser mortos e destruídos. Demócrito foi derrotado pelos vermes e outros vermes destruíram Sócrates." 
                      " Não é absolutamente necessário abandonar a cidade para encontrar a paz. Devemos aprender a maneira de nos separarmos em nós mesmos e assim encontraremos uma paz perfeita, ainda que nos rodeie a multidão." 
                       " Não procedas com se tivesses diante de ti dez mil anos de vida; a morte acotovela-nos. Procura, enquanto vives, servir para alguma coisa que esteja ao alcance de tuas aptidões. Bem depressa serás de novo absorvido por essa força diretora do Universo que te deu a vida." 
                       Marco Aurélio foi um grande sábio; procurou em sua vida, praticar as virtudes que recomendava ao próximo. Diante dessa grandeza, seus erros se apequenaram. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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