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sábado, 10 de agosto de 2013

BENVENUTO CELLINI - Por Nicéas Romeo Zanchett



BENVENUTO CELLINI 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                    A estranha e legendária figura de Benvenuto Cellini, chegou até nós em esplêndida e sincera autobiografia, mas sempre permanecerá como um símbolo da atribulada época em que viveu.  Seu talento artístico legou ao mundo grandes obras escultóricas. Mas existe outra lado desse grande artista que poucos conhecem. 
                    Era muito briguento, grande espadachim, boêmio, aventureiro, cheio de vícios. Contudo, graças á sua genial arte, em que punha seu incomparável talento, tudo lhe foi perdoado.
                    Nasceu em Florença a 03 de Novembro de 1.500 e nesta mesma cidade, faleceu em 13 de Fevereiro de 1571. Seu pai, Giovanni Cellini,  era proprietário de terras rurais, construía e tocava instrumento musicais. 
                    " Senhor Michelagnolo Bandinelli , este é um dos meus filhos; pequeno, como o vê, mas desenha maravilhosamente e gostaria muito que lhe ensinasse um pouco de sua arte. Na verdade, ele toca pífaro tão bem que desejaria fazer dele um músico; mas parece que a sua preferência  é para esculpir e borrar papéis...." 
                    Foi com estas palavras proferidas por seu pai que Benvenuto Cellini entrou no atelier do Maestro Michelagnolo onde começou a trabalhar de buril e agravar pedras preciosas. Aos poucos foi se tornando senhor de todos os segredos da profissão; ninguém possuía olho tão experiente em pesar safiras e esmeraldas, nem a mão tão leve para lidar com ouro como aquele adolescente florentino de olhar atrevido e engenho afiado como a lâmina de uma espada. Mas, era tão ágil com amente quanto com a língua  e com a mão; era briguento e seu punhal facilmente saltava da bainha por qualquer ninharia, por um gracejo, ou por um simples olhar que não lhe agradasse. Como era previsto, um certo dia suscitou tamanho alvoroço de gritos e pauladas, que foi obrigado, para não ser preso, fugir de Florença para Roma. 
                   Naquela época a Corte do papa Clemente VII chamava para junto de si todos os bons artistas e literatos da Itália. Com apenas vinte e três anos, Benvenuto Cellini, recebeu a primeira encomenda e fabricou um par de brincos, que provocaram infinitos aplausos, como também uma grande quantidade de inveja pelo seu talento. 
                   Como astuto florentino que era, tinha ótimo trânsito entre os senhores arrogantes e vingativos, colegas manhosos e pérfidos; infiltrava-se habilmente nas intrigas e nos mexericos da corte; tornou-se amigo de pintores como Guido Romano, Sebastiano del Piombo, Francesco Bacchiacca e com eles perambulava noite e dia  pelas ruas da cidade banqueteando e duelando; era um hábil espadachim e, portanto, muito respeitado. 
                   Com a deflagração da guerra entre  a França e a Espanha, após haver devastado a Itália, aproximava-se de Roma. Certa manhã, o alarma difundiu-se subitamente: "Eles estão aqui, sob as muralhas, já entraram!"  Toda a população armou-se, pois já os primeiros lansquenetes irrompiam pelas ruas, ávidos de saque.  Benvenuto, corajosamente, abriu caminho por entre a multidão apavorada, juntou-se a um grupo, refugiando-se no Castelo  Santo Ângelo, armou-se e da torre certeiramente disparava suas espingardas e carabinas; segundo suas palavras, com seu arcabuz matou o Condestável de Borbão, comandante dos invasores. 
                   A luta durou cerca de um mês e, durante esse tempo, o bombardeiro Benvenuto Cellini fulminava as trincheiras inimigas com suas "columbrinas" e seus "falconetti" (espingardas), estrategicamente colocadas nas torres do Castelo Santo Ângelo. Mas, em segredo, procurava também fundir o ouro do pontifício para poder ocultá-lo e assim protegê-lo dos invasores. Este fato, que mais tarde foi usado para caluniá-lo,  aconteceu em 1527, quando tinha poco mais de 26 anos de idade. Entusiasmado com esse eletrizante exercício, foi tentado a tornar-se soldado errante. 
                    Depois de saquearem a cidade, os invasores retiraram-se; Benvenuto, abandonando o rude manejo das armas, voltou a cinzelar vasos e a cunhar moedas, naquele seu atelier, que já era o primeiro da Itália. 
                    Viver entre os poderosos, que por uma calúnia ou um pequeno rancor eram capazes de matar ou envenenar qualquer pessoa, não era muito fácil naquela época; como era de se esperar, Benvenuto granjeara muitos inimigos,  e estes tanto sopraram aos ouvidos do Papa Paulo II (que sucedera Clemente VII), que, um belo dia, foi preso por esbirros armados e atirado ao calabouço, sob acusação de haver roubado ouro e jóias dos cofres pontifícios, durante o saque de Roma.  
                    Na cela do Castelo Santo Ângelo, Benvenuto tinha como companheiro  alguns guardas e um castelão desequilibrado, que muitas vezes se julgava um morcego. Ali, sentindo-se injustiçado, gritava, ameaçava, protestava sua inocência, mas o único resultado que obteve foi ser vigiado ainda mais severamente. Pouco a pouco, em sua mente, foi tomando forma um plano de fuga. 
                    Com um par de tesouras roubadas de um servente, desatarraxou, um após outro, os pregos da porta de sua cela, imitando com cera de limalha as cabeças que ficavam salientes; uma bela noite, fez uma corda de lençóis que rasgara, abriu vagarosamente sua porta com o auxílio de uma adaga, e deslizou pelos corredores escuros e desertos. A parede externa era muito alta, mas o fugitivo, utilizando-se de sua corda  improvisada, fechou os olhos e deixou-se cair. 
                   Sua fuga não teve sucesso e logo foi agarrado e levado novamente ao cárcere; com muita alegria, foi recebido pelo louco castelão, que o trancou na cela mais úmida e imunda que havia, onde enlanguesceu durante muitos meses. Em constante luta contra doenças e a tristeza, maltratado pelos guardas e sempre em perigo iminente de ser morto a qualquer momento (conta-se que tentaram matá-lo, dando-lhe comida com diamante triturado). 
                   Finalmente, já bastante fraco, chegou o dia de sua libertação. Benvenuto, já farto das tramas e traições das cortes italianas, foi embora para a França. Ali ficou a serviço do rei Francisco I. Recebido como um fidalgo, com farta provisão e casa própria, o valentão, afinal, viu que apreciavam e davam valor à sua arte e passou a fabricar estátuas de prata e a montar rubis e brilhantes, com redobrado ardor. Mas, também aqui não tardaram a surgir aventuras, duelos e pauladas. Sorte dele que o rei, homem jovial e ousado, sempre fechava os olhos ante suas escapadas e não se cansava de admirar seus talentos. Foi nessa época que criou o famoso saleiro de ouro, de inestimável valor, que cinzelara para o soberano e ainda se conserva em Paris. 

                 Como era natural, com seu orgulho (aliás, bem justificado), o nosso agitado artista ia, aos poucos, criando um ambiente hostil em torno de si, tanto na corte como entre seus colegas de profissão; por isso e também devido à saudade de sua terra, poucos anos depois, Benvenuto  regressou a Florença, onde passou a trabalhar para o Duque Cosme dei Médici. Aqui ele pretendia executar sua obra prima, que desde muito tempo torturava sua mente, isto é, uma estátua de Perseu, que iria figurar na Loggia dei Lanzi, na maior praça da cidade. 

                 Com muita dedicação, esculpiu a obra que, por longo tempo imaginara. Chegado o tão esperado dia da fusão, a agitação lhe provocou forte febre; por isso, depois de deixar tudo preparado e os ajudantes cuidando do fogo, foi deitar-se  um pouco para descansar. Enquanto descansava, atormentado pela ansiedade e pela doença, eis que entra em seu quarto um homenzinho aleijado,  que mais parecia ter saído de um pesadelo, e lhe anunciou, com voz estrídula: 
                  - Ó, Benvenuto, tua obra foi irremediavelmente perdida!
                  Foi como se tivesse recebido uma chicoteada, o artista saltou da cama, vestiu-se às pressas, e correu para a fornalha, onde viu o fogo quase apagado, uma enorme fumaceira e todos os seus ajudantes, lívidos, junto ao caldeirão, em que o metal já se ia coagulando. Benvenuto parecia um demônio enfurecido; mandou reanimar imediatamente as chamas, apanhou todos os pratos de estanho e atirou-os na caldeira, para diluir o metal, até que, com enorme estrondo, a tampa do forno saltou para o ar e o bronze escorreu, fluído e brilhante, ótimo para preencher o molde. 
                    A estátua de Perseu foi sua última grande tarefa, ao menos de que se tem notícia em suas memórias. Embora sua produção tenha sido imensa, bem pouco, infelizmente, chegou até os nossos dias. 
                    Sua autobiografia, escrita aos sessenta anos, permanece na mais arguta e cintilante prosa que se pode imaginar. Sua história é testemunha atualíssima de uma época que figura entre as mais esplendorosas da Itália e do gênio impulsivo desse incomparável artista. 
                    Como muitos o denominaram, Benvenuto Cellini, pode muito bem ser considerado um tipico italiano do século XVI. Amado e procurado por poderosos, tais como o Papa Clemente VII, o rei Francisco I de França, os nobres florentinos da magnifica corte dos Médicis. 
                    O inveterado aventureiro, por amar a vida, a arte, a luta, a natureza em todas as suas manifestações, fazia falar de si constantemente. Com a mesma facilidade com que criava em torno de si  amigos e admiradores, fazia surgir  acérrimos inimigos, na maior parte invejosos de seu incomensurável talento. 
                     Íntimo de príncipes, reis e papas, poderia ter enriquecido, casado com alguma nobre dama de seu tempo, mas preferia a vida desregrada, a aventura, daí as vicissitudes e perigos que o cercavam. 
                     Muitas vezes foi chamado de cínico, devido ao realismo que imprimiu em suas "Memórias".  
                     Como gravador e cinzelador, porém, ainda não foi igualado, embora poucos de seus trabalhos tenham chegado salvos até nossos dias. Escreveu, ainda, diversos tratados sobre sua arte. 

                     Como era natural, inspirou escritores e compositores, que escreveram obras primas sobre sua agitada existência, destacando-se, entre outras, a ópera de autoria de Heitor Berlioz, com libreto de León de Wailly e Augusto Barbier, em dois atos, representada na Ópera de Paris, em 3 de setembro de 1838, e que assinalou a estréia do famoso maestro francês nesse gênero. Após várias representações na França, foi levada á cena em outros países da Europa, com relativo êxito. 
                     Outra Ópera, em quatro atos, de autoria de Eugênio Dias, foi apresentada, em 1880, sendo famosa sua ária "Da arte esplendor imortal..."
                     Como se vê, trata-se de um estranho personagem, que pode ser considerado um retrato fiel da época em que viveu; uma Itália turbulenta, onde proliferavam várias cortes e repúblicas, e surgiam artistas e espadachins que viviam intensamente, pois, geralmente, suas vidas corriam perigo e era preciso aproveitá-las ao máximo... 
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Nicéas Romeo Zanchett 
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terça-feira, 2 de julho de 2013

INÍCIO DA LITERATURA CRISTÃ- Por Romeo Zanchett


INÍCIO DA LITERATURA CRISTÃ
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                     O cristianismo surgiu na capital do Império Romano no tempo de Cláudio. De lá, estendeu suas conquistas até as províncias mais afastadas do mundo ocidental. No princípio, a nova religião era professada por pessoas de condição humilde, mas aos poucos foi se infiltrando gradualmente nas classes elevadas. 
                     A oposição suscitada pelos defensores do paganismo, nos séculos II e III, e deu como resultado uma literatura  de caráter apologético, que opôs sua réplica contundente aos escritos dos partidários das antigas crenças.  
                     Mais tarde (possivelmente nos séculos IV e V), quando já tinha cessado a época da perseguições, os padres da Igreja ensinam a nova doutrina e os poetas  celebram suas belezas. 
                     Entre os apologistas importantes figuram Tertuliano (155 x 225), polemista fogoso e grande orador; São Cipriano, bispo de Cartago, autor de várias obras, entre elas uma série interessantíssima de Cartas;  Minúcio Félix, que em diálogo de estilo ciceroniano, intitulado Octávio, defendeu com energia os princípios da nova fé;  Também tiveram destaque Lactâncio e muitos outros. 
                     Os principais padres da Igreja foram São Hilário, bispo de Poitiers; Santo Ambrósio, arcebispo de Milão; e São Jerônimo (331 x 420), que além de traduzir o Antigo e o Novo Testamento (a Vulgata), deixou uma coleção de Cartas, de inapreciável valor, extensos escritos dogmáticos e polêmicos, uma Crônica e um tratado do "Varões Ilustres", continuando depois por Genádio, Santo Isidoro e Santo Ildefonso. Para finalizar, temos Santo Agostinho (350 x 430), bispo de Hipona, na África, cujas duas obras principais são "A Cidade de Deus" e "As Confissões", dois dos mais belos livros de todos os tempos. 
                     Os poetas da época também tiveram destaque. Entre eles podemos citar Comodiano, Sidônio Apolinário, Sedúlio, São Paulino de Nola, e o espanhol Marco Aurélio Prudêncio Clemente, que, dotado de fina sensibilidade e de poderosa imaginação, expôs com clareza as teses mais sutis e cantou os heróis da nova crença em hinos cheios de fervor. 
                     Figura de relevo dessa época foi Marco Aurélio, o imperador-filósofo, cuja obra  principal tomou o título de "Meditações". 
                     Como exemplo da filosofia desse grande imperador, que foi um dos maiores  governantes do Império Romano, temos algumas citações:
                    "Lembre-se de que há pessoas que, apesar de serem muito ativas, nada fazem de proveitoso. Cansam-se inutilmente e esgotam suas forças sem aspirarem a um fim determinado, sem obedecer a nenhum plano." 
                     " Deves proceder sempre, pensando que podes morrer quando menos o esperes; mas isso sem temeres a morte. Se há deuses ou Providência, serás salvo; e, se não os houvesse, um mundo sem deuses não é digno de que o homem viva nele."
                      " Devemos de preferência atender às nossas almas, pois os corpos estão perdidos. Hipócrates, que curou tantas  doenças, por fim caiu enfermo e morreu."
                      " Alexandre, Pompeu e Júlio César, que semearam por toda parte a morte e a destruição, acabaram por ser mortos e destruídos. Demócrito foi derrotado pelos vermes e outros vermes destruíram Sócrates." 
                      " Não é absolutamente necessário abandonar a cidade para encontrar a paz. Devemos aprender a maneira de nos separarmos em nós mesmos e assim encontraremos uma paz perfeita, ainda que nos rodeie a multidão." 
                       " Não procedas com se tivesses diante de ti dez mil anos de vida; a morte acotovela-nos. Procura, enquanto vives, servir para alguma coisa que esteja ao alcance de tuas aptidões. Bem depressa serás de novo absorvido por essa força diretora do Universo que te deu a vida." 
                       Marco Aurélio foi um grande sábio; procurou em sua vida, praticar as virtudes que recomendava ao próximo. Diante dessa grandeza, seus erros se apequenaram. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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sexta-feira, 17 de maio de 2013

COMO ENTENDER A ARTE - Por Nicéas Zanchett

COMO ENTENDER A ARTE 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
                    Em cada época da história da humanidade existiram artistas com as mais diversas formas de expressão. Cada artista de gênio teve seus próprios meios de expressão; cada obra transmite emoções diferentes; portanto, ao ver uma obra você está contemplando diversos sentimentos. Partindo dessa premissa, podemos dizer que a arte é um sentimento para contemplar. 
                    O primeiro passo para entender uma obra é olhar atentamente, sem se preocupar com o assunto que ele representa.
                    Se a aquela obra é algo que você nunca viu, como por exemplo uma mulher pintada de azul ou um animal cor de rosa, não a condene. Pintura é uma criação, e criação é o poder de abstrair-se da realidade imediata. 
Esta obra eu pintei em 1973; ela representa 
o meu sentimento naquele momento.

                    Outro fator a ser considerado é que não é um bom assunto que faz uma obra boa, mas uma pintura boa, bem trabalhada, torna bom qualquer assunto.
                    A linguagem da música são sons e a da obra de arte são as formas e cores. Quando você houve uma Sinfonia Clássica não fica se perguntando o que ela quer dizer, mas apenas sente a emoção daquele momento. Da mesma forma, não precisa ficar o tempo todo se perguntando o que o artista quis dizer; procure apenas sentir a emoção. 
                    Gostar ou não gostar é uma questão muito pessoal. Deixe que o quadro ou escultura  o absorva, pois, sendo ela uma comunicação visual, cabe a "ela" comunicar-se com você e não o contrário. 
Esta escultura eu criei em 2002.

                    Cada estilo tem linhas próprias de composição. Você poderá observar se essas linhas da composição se desenvolvem sem muitos acidentes ou se, pelo contrário, são extremamente acidentadas. 
                     Ao ver uma pintura, observe as cores; num quadro de estilo coerente, geralmente às linhas calmas sucedem-se cores límpidas e espalhadas regularmente na tela; já às linhas acidentadas correspondem cores violentamente contrastadas. 
                    Caso ele exista, observe o claro-escuro. Os artistas o utilizam para dar uma sensação de terceira dimensão. Ao claro corresponde a parte que se encontra na luz, e ao escuro, o lado da sombra. Escuros e claros devem equilibrar-se. Nos pintores ou estilos  que preferem as cores fortes e linhas serenas, geralmente o claro-escuro é pouco visível, e os quadros parecem ter pouca profundidade. É o normal. 
Esta tela eu pintei em 2004.

                    Cada artista tem suas melhores e piores fases. Isto irá fatalmente se refletir na sua arte. Também cada época e cada indivíduo tem sua época e seu estilo característico. Portanto, não cabe a você querer que pintem igual a um Leonardo da Vinci ou um Ingres. São artistas que viveram em mundos diferentes e próprios e, portanto, impossíveis de serem imitados. 
                    O artista tem sua própria forma de ver o mundo; geralmente não pensa como as outras pessoas. Procure observar se ele deu mais valor aos volumes ou se preferiu dar mais ênfase à cor. No primeiro caso costuma se dizer que é uma pintura de valores escultóricos; no segundo, temos uma pintura de valores cromáticos. Você não pode exigir cores violentas numa pintura de valores escultóricos; na de valores cromáticos não incrimine o pintor de não saber dar volume às figuras. Lembre-se, cada expressão artística representa o sentimento do autor e não os seus sentimentos. Lembre-se também que os sentimentos de uma artistas podem variar infinitamente. 
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Nicéas Romeo Zanchett 




quinta-feira, 9 de maio de 2013

DESENCONTRO - Por Agenor Mário Cattoni

Poesia sobre uma vernissage...


DESENCONTRO 
Por Agenor Mário Cattoni
                      Noite de vernissage...
                      Pinturas, esculturas, 
                      trabalhos em couro e madeira. 
                      As paredes como pedestais. 
                      Etiquetas de títulos, 
                      nones, 
                      preços. 
                      Arte à venda. 
                     Olhos procurando ver, 
                      entender, 
                      consumir. 
                      Copos andando pelas mãos,
                      guloseimas de boca em boca.
                      Risos armados, 
                      alguns alegrinhos, 
                      outros discretamente tristes. 
                      Apertos de mãos, beijos, 
                      abraços e parabéns...
                      Gente entrando, cruzando. 
                      Ninguém pára para ninguém...
                      Vultos buscando vultos. 
                      Fantasmas andando, 
                      Conversando e tateando, 
                      Olfateando o vazio. 
                      Muitos elogios colhidos e dados. 
                      O álcool vai subindo, 
                      a noite vai crescendo 
                      na irracionalidade do finito.
                      O ser vai se negando 
                      na profunda essência
                      de sua existência. 
BIOGRAFIA SIMPLIFICADA
- Agenor Mario Cattoni, filho de pequenos camponeses, nasceu em Rio dos Cedros - Santa Catarina. É licenciado em Filosofia Pura e em Ciências  Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Em 1973, por concurso público, passou a lecionar cadeiras de Sociologia na Universidade Estadual de Londrina - PR.  Em 1980 concluiu o curso de Pós-Graduação em Sociologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo obtendo o grau de Mestre em Ciências Sociais com a defesa da tese "Os espoliados da terra" (estudo sobre a espoliação e proletarização do pequeno camponês brasileiro), sob orientação do professor Dr. Octávio Lanni. 
Deixou o magistério para dedicar-se a atividades particulares. 
Esta poesia "DESENCONTRO" mostra, com genialidade, o cenário de uma vernissage, onde a falsidade, os interesses individuais, o desinteresse e desconhecimento da arte são evidenciados. São inúmeras as pessoas que vão às vernissagens apenas por badalação, degustação e bebidas.
Nicéas Romeo Zanchett  


OBRAS DE ARTE ORIGINAIS E FALSAS- Por Romeo Zanchett

Obra Ilustrativa 
Pintura acrílica de Romeo Zanchett 
OBRAS DE ARTE ORIGINAIS E FALSAS
                     Obra original é aquela cuja autenticidade não existe nenhuma dúvida. 
                     Falsos existiram e existirão sempre, pois o valor financeiro de uma obra de arte acompanha a sua qualidade tal como a sombra acompanha o corpo que a projeta. 
                     Dossena, Batianini, Van Meegeren, foram falsários notáveis, quase geniais.  Na atualidade um dos falsários mais famosos é, sem dúvida, Edgar Mrugalla. Ele próprio diz que já perdeu a conta de quantos quadros copiou para seus clientes, mas calcula que foram mais de 3.500 obras. 
                    Muitas pessoas adquirem obras falsas sabendo da sua real condição. Estão apenas querendo ter na parede uma obra supostamente famosa para expor aos amigos. Na verdade eles não tem nenhum interesse ou amor pela arte, mas apenas as usam para provar sua boa condição social e financeira. Muitas vezes, quando esta pessoa morre ou se desfaz de sua obra falsa, ela acaba no mercado. É por existirem pessoas assim que o mercado de falsário é tão lucrativo. 
                   Cálculos  estimativos indicam que cerca de metade das obras de arte negociadas no mundo são falsas. Sempre são de pintores muito valorizados. Numerosos Van Gogh, 70% dos Chagal, 90% dos Dali. Também pintores como Picasso, Rembrandt, Renoir, Gustav Klint, são os preferidos dos falsários de nossos dias. 
                   No Brasil também possuímos os nossos falsários, alguns ocupados em parodiar a produção de grandes artistas modernos e contemporâneos, para os quais sabem que existe mercado. 
                   É preciso ter a noção nítida e precisa do que se entende por falsificador; alguém que, com finalidade dolosa, forja e passa adiante obras de arte. O aluno que, na Academia, executa uma cópia com finalidade de auto-disciplinar-se, evidentemente, não é um falsário, mas um copista. 
                   Os falsos podem ser facilmente desmascarados pelo olho treinado de um especialista e  (sobretudo no caso de pintura antiga) por exames físico-químicos de laboratório como, por exemplo, o de carbono 14. 
                   Original, cópia, réplica, obra de atelier, obra no estilo de um determinado artista, obra da escola de determinado artista são diferentes noções que convém ter presentes na fixação do preço; ao passo que o falso constitui uma violação da lei e anula o seu preço. 
                   No caso particular da gravura, considera-se original aquela produzida por determinado artista e tirada por ele próprio, ou sob seu controle direto. É preciso saber que também existe muitas gravuras falsas no mercado; elas foram produzidas por falsários, sem o controle ou conhecimento do artista. 
Nicéas Romeo Zanchett 

A ARTE E A NATUREZA - Por Romeo Zanchett

Obra ilustrativa 
Pintura em Paste de Romeo Zanchett 
A ARTE E A NATUREZA 
                     A arte sempre tem o objetivo de nos proporcionar prazer. É pela arte da imitação que produzimos as belezas da natureza. 
                     A escola realista ou naturalista pretende fazer da imitação o fim e a perfeição da arte.  Estabelece como princípio que, sendo verdadeiro somente o real, também só este é belo e sempre belo. É, pois, a negação do ideal.  Aristóteles dizia que qualquer imitação agrada, mesmo quando a visão do objeto real nos deixa indiferentes; e essa imitação é tanto mais interessante quanto melhor se execute e quanto maiores dificuldades ofereça. Todavia, qualquer que seja a importância da natureza, é impossível nela ver, com a escola realista, o fim e a perfeição da arte. 
                     Em sentido geral, e em oposição à natureza, a arte significa qualquer obra executada pela mão do homem. Já, a natureza tem vida própria, independe da vontade do homem. Como afirmava Leibniz sobre a arte divina, cada micro parte da natureza é vida.
                     A imitação, longe de ser o fim da arte, nem sempre  é, por outro lado, a sua condição. É elemento quase que completamente ausente na arquitetura, na poesia lírica; Jamais musico algum tentou exprimir a dor  pela exata reprodução de gritos e soluços. Mesmo o mais sábio dos poetas, não fala espontaneamente por meio de versos, como na poesia dramática, nem por meio de canto, como na ópera. Estaríamos riscando das belas artes o desenho e a estatuária, porque a natureza é sempre colorida e a ilusão é impossível sem cores. Na luta com a realidade, a arte é de antemão vencida e fatalmente condenada a ficar infinitamente abaixo do modelo. Não há como expressar a natureza artisticamente com perfeição; a essa impossibilidade objetiva, temos de acrescentar outra, a subjetiva; porque temos de levar em conta que não há duas pessoas que vejam tanto a natureza como a obra de arte de modo idêntico; o artista jamais vê a realidade tal como ela é, mas sim como é ele mesmo; mesmo inconscientemente põe na sua obra alguma coisa de si próprio que pode até passar despercebido por outros a a veem. 
                     Em presença da realidade, muitas obras primas trágicas são, do ponto de vista visual, insuportáveis; a emoção estética desaparece para dar lugar ao espanto, à indignação e ao horror. 
                     O belo fala à nossa alma e desperta instintivamente o artista a a imitá-lo e a reproduzi-lo. Como afirmava Plotino, admirar é imitar. A admiração estimula a atividade humana e provoca a exaltação fecunda de todas as nossas faculdades; a isso chamamos de inspiração.  A partir daí não nos contentamos mais com o simples fato de compreender a arte, queremos vê-la falar e exprimir o que sentimos.
                     Em certo sentido, mais restrito ainda, a arte se opõe ao ofício; este tem por fim a produção de coisas úteis e ela a produção de coisas belas. Daí porque chamamos a primeira de arte mecânica ou industrial e a segunda de belas artes. É a arte compreendida como expressão refletida da beleza, sob uma forma sensível, que se trata em estética.
                    O artista deverá, pois, reproduzir seu modelo, não servilmente e tal como o encontra na natureza, mas tal como compreende, tal como o sente, tal qual o quer; em outras palavras, deverá pintar não somente a natureza, mas de acordo com com ela e segundo seus sentimentos.
                    A realidade jamais satisfaz plenamente a nossa razão estética. A beleza das coisas nos aparecem sempre mais ou menos incompleta; muitas vezes está velada pelas razões de utilidade, que tornam a impressão vaga e indecisa. O artista tem o dever de interpretar essa linguagem, traduzi-la em sinais claros e inteligíveis, que façam sobressair seu sentido e lhe aumentem o valor estético. Em outros termos, deve idealizar seu modelo de acordo com seus sentimentos.
                    A natureza, seja ela uma paisagem, um corpo ou um objeto, é sempre mais ou menos luxuriante e espessa. Portanto, o primeiro cuidado do artista será cortar os pormenores insignificantes, que o mascaram ou complicam inutilmente. Apos este trabalho preliminar de simplificação, ele deve intensificar os traços característicos, afim de fazê-los mais perceptíveis e mais sensíveis; é dessa forma que imprimirá à sua obra o cunho de sua personalidade, fará dela verdadeiramente a expressão de uma alma, quando embora não pareça senão uma cópia do real. É isso que se endente por expressão individual.    
                    Por tudo isso, se tivermos como objetivo a imitação perfeita, a máquina fotográfica, ou melhor, ainda, um espelho substituem vantajosamente a arte e os artistas.
Nicéas Romeo Zanchett 
http://gotasdeculturauniversal.blogspot.com.br  

terça-feira, 7 de maio de 2013

COMO COMPRAR OBRAS DE ARTE - Por Romeo Zanchett

Obra ilustrativa de Romeo Zanchett 
COMO COMPRAR OBRAS DE ARTE 
                 A obra de arte pode ter um valor financeiro como um imóvel, uma ação na bolsa ou outro bem de valor; e muitos as adquirem como investimento de segurança. No ano de 2007 (data em que escrevi este artigo) a Christies faturou mais de seis bilhões de euros em seus leilões. Isto vem demonstrar que o mercado de arte está aquecido; provavelmente porque havia insegurança no mercado de ações americano em virtude dos problemas financeiros com grandes empresas e bancos daquele país. Nos momentos de crise mundial, a arte  sempre foi um refúgio seguro de investimento.
                 Muitos adquirem arte como prova de bom gosto, distinção social e especialmente para exibi-los aos amigos. Não cabe julgá-los, mas apenas constatar o fato e torcer para que, o que hoje é apenas exibicionismo social, se torne paixão duradoura. 
                 O comprador de arte deve ter em mente os diversos fatores que determinam o real valor de uma obra. 
AUTORIA - Quem é o autor?; trata-se de obra típica desse autor? ; pertence a uma fase ou momento esteticamente importante de sua evolução artística?; certos artistas tornam-se célebres em razão de determinado tema ou motivo; o pintor Pancetti, por exemplo, era marinhista e, portanto suas marinhas têm mais valor, do ponto de vista financeiro.
QUALIDADE - Trata-se de obra importante do autor?; qual sua qualidade, em relação a outras do mesmo autor?.  Nenhum artista, por mais famoso que seja, terá produzido apenas obras primas; há que se fixar o melhor e o pior de sua produção e estabelecer ainda os diversos marcos que se colocam entre esses dois extremos; o preço variará muito, dentro de certos limites, segundo a menor ou a maior qualidade da obra. 
QUANTIDADE - Qual a situação do mercado de arte em relação às obras do autor?; há mais oferta ou mais procura?; o preço de uma obra deverá estar na razão direta de sua qualidade e na inversa de sua quantidade; uma produção abundante, se não controlada por um hábil "marchand", determinará fatalmente  banalização dos preços; por outro lado, uma produção por demais escassa terminará por colocar seu autor fora do mercado. 
TEMAS E DIMENSÕES - Muitas vezes, obras de artistas bem cotados e com excelente qualidade atingem baixo preço devido a seu tema ou às suas dimensões; por exemplo, uma obra com o tamanho da "Batalha dos Guararapes" ou do tamanho de uma caixa de fósforo será sempre de difícil vendagem; lembremo-nos das pretensiosas palavras de Protágoras - "O homem é a medida de todas as coisa". 
ESTADO DE CONSERVAÇÃO - Quanto melhor o estado de conservação, maior o preço; uma obra já restaurada valerá menos que outra íntegra; o estado de conservação de uma obra geralmente é classificado em: A (excelente), B (bom), C (danificado); pequenas restaurações executadas por um profissional consciencioso e capaz não diminuem, a rigor, o preço; é preciso tomar muito cuidado com os falsos restauradores que, infelizmente, no Brasil existem muitos.
PEDIGREE DA OBRA - O grau de autenticidade de uma obra é muito importante para se estabelecer seu valor. Seu pedigree é aferido pelas exposições em que tomou parte, nos livros em que foi citada ou reproduzida, nas coleções a que pertenceu, nos museus em que foi exibida e assim por diante. 
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NOTA FINAL : Dedico esta informações à memória do meu saudoso amigo Jorge Beltrão que sempre me incentivava e dava orientações artísticas. exigindo que tomasse nota de cada detalhe. Para quem não conheceu, Jorge Beltrão foi um dos maiores marchands do Brasil. Proprietário da Montmartre Gallery, no Rio de Janeiro que, por muitos anos, foi o principal ponto de encontro de grandes nomes da arte brasileira, com quem tive o prazer de conviver e trabalhar de 1973 a 1979. 
Nicéas Romeo Zanchett 


sábado, 27 de abril de 2013

A IMORTALIDADE DA ALMA

A IMORTALIDADE DA ALMA
       O homem é o palco de duas categorias de fenômenos diferentes: a material que se pode medir quantitativamente com o seu funcionamento fisiológico - alimentação, digestão, circulação sanguínea, etc. ; a espiritual com outros qualitativos, perceptíveis somente à consciência, como a alegria, o pensamento, o remorso, a volição. De forma que temos que admitir que o homem é composto de duas substâncias incompletas, essencialmente ordenadas uma para a outra, mas distintas. A primeira é extensa, divisível e palpável, substrato dos fenômenos fisiológicos, o corpo;  a segunda é simples, mas perceptível unicamente pela consciência, a alma. 
        O corpo é múltiplo, isto é, composto e, por conseguinte, divisível; renova-se sem cessar; é material. 
        A alma é essencialmente una, e portanto simples; é sempre idêntica a si mesma; é espiritual porque existe independentemente da matéria e das condições da matéria no ser e no operar.
        Apesar da alma estar substancialmente unida ao corpo, e depender do concurso direto do organismo para suas operações sensitivas; e apesar das faculdades superiores necessitarem das faculdades sensitivas, e por conseguinte, suportarem também certa influência direta dos órgãos - que são materiais - é intrinsecamente independente do corpo nas funções intelectuais, porque ela pensa e tem seu próprio querer sem auxílio dos órgãos. Portanto, a alma não está completamente imersa na matéria, que é independente dela sob diversos aspectos, e que por conseguinte é verdadeiramente espiritual. 
         A consciência atesta-nos que nos meios dos múltiplos fenômenos que experimentamos, o sujeito "EU", que os experimenta ou os produz, não desaparece com cada um deles para ceder lugar a outro; diferentemente da matéria, a alma sobrevive aos seus atos e às suas modificações. O "Eu" permanece idêntico em todos os momentos de sua duração; hoje é o mesmo que era ontem e assim será amanhã. É a alma que nos permite recordarmos do passado. 
         Todo o nosso organismo está em permanente renovação. No passado se julgava que essa renovação se dava ao longo de sete anos. As experiências do pesquisador Flourens provaram que a renovação do corpo era obra de alguns meses. Pensava-se que era parcial, hoje sabe-se que é integral. Sabemos também que nenhuma parte superficial ou profunda, mole ou resistente do organismo escapa a essa renovação. 
          O nosso sentimento de responsabilidade é também uma prova de identidade da alma. Sentimo-nos responsáveis, temos remorsos e arrependimentos duma má ação cometida a tempos atrás. Ora, só nos sentimos responsáveis ou arrependidos pelo mal cometido por nós mesmos e nunca pelos males feitos pelos outros. E isto é a prova de que o "Eu" - alma -  permanece idêntico a si mesmo. 
          Todo o homem só tem uma alma; é ela que pensa sente e quer. Pela mesma razão e do mesmo modo imediato, a consciência percebe todos os fenômenos psicológicos, e atribui-os ao mesmo "Eu"; é por essa razão que dizemos: o meu pensamento, a minha dor, o meu sentimento, a minha decisão. Portanto a nossa alma forma idéias e a ideia é imaterial. Da mesma maneira, a inteligência, faculdade do pensamento, deve ser imaterial, porque é a alma que opera pela inteligência e, assim sendo, é imaterial pela mesma razão. 
          A lei fundamental da matéria é o determinismo; é absolutamente indiferente para o repouso ou movimento. A alma, ao contrário, é livre e tem faculdade de se mover a si mesma, de querer operar ou não operar, de resistir ou ceder aos impulsos da sensibilidade ou das ideias; não está submetida às leis da matéria como o corpo, e sobre este aspecto é também evidentemente espiritual. 
         O espirito não é matéria em via de progresso como pretende o materialismo; a matéria, por sua vez, não é espírito apagado ou inteligência adormecida, como afirma o espiritualismo monístico; os seus atributos, por serem contraditoriamente  opostos, formam, por assim dizer, os dois polos do ser humano, e nenhuma evolução seria capaz de preencher o abismo que as separa. O espiritualismo dualista admite, com razão, duas substâncias incompletas irredutivelmente distintas, embora intimamente unidas, no ser humano. 
          Podemos dizer que a alma, pelo fato de ser simples, idêntica e espiritual, é necessariamente distinta do corpo, que é composto mutável e material. De forma que podemos concluir que a alma é imortal e, diferentemente da matéria, é intransferível.
          A imortalidade consiste na sobrevivência substancial e pessoal do "EU", na identidade permanente da consciência idêntica, isto é, da alma que conserva as suas faculdades de conhecer e amar, sem as quais não há felicidade humana.
           O corpo, que se compõe de elementos heterogêneos , desintegra-se e dissolve-se naturalmente tão logo que se separa do seu princípio de unidade, da sua forma substancial que é a alma. Já a alma, ao contrário, sendo metafisicamente simples e espiritual, não pode decompor-se nem desintegrar-se como acontece com o corpo que é matéria numa determinada forma de composição - no caso - o corpo humano. 
           Em relação à questão moral é fácil observar que neste mundo nem a natureza, nem a sociedade, nem a própria consciência, que é o juiz de cada um, dispõem de sanções suficientes para recompensar plenamente a virtude ou punir adequadamente  o vício; é, pois, necessário que haja outra vida, onde a justiça seja plenamente satisfeita e a ordem definitivamente restabelecida. 
           A ganância das pessoas leva-as a aspirar bens limitados da terra. Já os sábios aspiram  um objeto infinito, uma verdade, beleza e bondades absolutas, cuja posse permite ser perfeitamente felizes. Por mais progressos que façam no conhecimento da verdade, no amor da beleza, na prática do bem, nunca se sentem plenamente satisfeitos. Quanto mais progridem  tanto mais se ascendem os seus desejos, mais aumentam suas exigências; isto prova que nossas faculdades superiores possuem capacidade ilimitada que não se pode satisfazer completamente fora deste bem infinito, que não é outro senão o mesmo Deus  Cósmico Universal, do qual cada um de nós é uma pequena parte. 
           Se há um Deus sábio e justo deve haver outra vida onde se restabeleça o equilíbrio entre o que queremos e o que podemos, uma vida onde sejamos perfeitamente felizes. Um Deus sábio e justo não exige rituais e recompensas, não precisa de intermediários, nem impõe violentamente a sua criatura para um fim que jamais poderemos alcançar.
           Nossa vida na terra é um sopro passageiro. Não podemos gozar plenamente dos bens materiais que possuímos se a cada momento receamos perdê-los; esta incerteza é tanto mais pungente quanto mais precioso é o bem possuído. A duração ilimitada é, evidentemente, que constitui o elemento essencial da felicidade completa e, portanto, não está aqui. Está além da vida. 
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Nicéas Romeo Zanchett
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segunda-feira, 22 de abril de 2013

O JULGAMENTO DE SÓCRATES - Por Platão

O JULGAMENTO DE SÓCRATES
Por Platão
CAPÍTULO I
Trata-se de um documento onde Platão descreve o dialogo entre Sócrates e seus interrogadores Euthifron e Meleto. Foi traduzido do grego. Embora todo o julgamento tenha sido longo, é muito interessante conhecer o pensamento do grande mestre Sócrates ditas com suas próprias palavra e aqui transcritas por seu discípulo maior, Platão. -  Nicéas Romeo Zanchett

Sócrates, na véspera do seu julgamento por impiedade, quer mostrar que as noções correntes acerca da piedade ou impiedade, da santidade ou da ausência de santidade, não suportam uma crítica  rigorosa. 



      Euthifron - Que estás tu fazendo aqui no pórtico do archonte, Sócrates? Porque deixaste o teu lugar de costume no Liceu? Não tens, com certeza, como eu, uma ação a julgar perante ele. 
       Sócrates - Não; os atenienses, Euthifron, chamam-lhe uma acusação e não uma ação.
       Euthifron - O que? queres dizer que alguém te fez qualquer acusação? Porque não posso crer que sejas tu quem a faz a alguém. 
       Sócrates -  Por certo que não sou eu quem a faz. 
       Euthifron - Há então alguém que te acuse? 
       Sócrates -  Há. 
       Euthifron - Quem é?
       Sócrates - Mal o conheço, Euthifron; deve ser um rapaz desconhecido. O seu nome porém é Meleto, e o seu demos Pitthis; vê lá se te lembras de algum Meleto daquele demos - um homem de nariz aquilino, , cabelo comprido e pouca barba. 
       Euthifron -  Não o conheço, Sócrates. Mas, dize-me, por que razão te acusa ele? 
       Sócrates - Por que razão? Não é por pouco parece-me. Não é pouca coisa, para que um rapaz tão novo já tenha formado uma opinião sobre um assunto tão importante. Porque ele diz que sabe como se corrompe a juventude e quem a corrompe. Deve ser um sábio, que, vendo a minha ignorância, me vai acusar perante a cidade, como uma mãe, de corromper os seus amigos. Parece-me ser o único homem que principia por onde deve em matéria de reformas políticas; quero dizer, cujo primeiro cuidado é tornar a juventude quanto possível perfeita, assim como um bom lavrador cuidará primeiro das suas plantas mais novas, e, começa por correr conosco que, diz ele, corrompemos os jovens à medida que eles crescem; e depois de ter feito isso, daria naturalmente a sua atenção aos homens mais velhos, tornando-se assim um benemérito do público. É o que há a a esperar, visto que deste modo começa. 
      Euthifron - Oxalá assim seja, Sócrates, mas duvido muito. Parece que tentando fazer-te mal, o que ele está fazendo é atirando um golpe ao coração do Estado.  Mas, dize-me, de que modo afirma ele que tu corrompes a juventude? 
       Sócrates - De um modo que o princípio parece estranho  meu amigo. Diz que eu sou um fazedor de deuses; de mode que me acusa, segundo ele diz, de inventar novos deuses e não acreditar nos antigos. 
        Euthifron - Compreendo, Sócrates. É porque dizer que tens um signo divino. De modo que te acusa por introduzires coisas novas na religião; e vai ao tribunal sabendo que esses assuntos facilmente se podem  torcer perante a multidão, e portanto tencionando caluniar-te ali. Ora, de mim se riem eles como se estivesse doido quando falo de coisas divinas na assembléia e lhes vaticino o que vai acontecer; e contudo, nuca vaticínio meu saiu errado. Mas invejam os que são como nós. Convém que não lhes liguemos importância; devemos fazer-lhes frente sem temor. 
       Sócrates - Meu caro Euthifron, o escárnio deles não é coisa muito séria. Os atenienses,    parece-me, podem ter um homem por inteligente sem lhe ligar muita atenção, logo que não julguem que ele comunica a sua sabedoria aos outros. Mas logo que lhes parece que ele torna inteligentes a outros, zangam-se, que seja por inveja, como tu dizes, quer por qualquer outra razão. 
       Euthifron - Não tenho grande empenho em conhecera disposição deles para comigo neste assunto. 
       Sócrates - Não, talvez pensem que tu, como te mostras muito pouco, não tens grande empenho em comunicar o que sabes  aos outros; mas receio que de mim pensem o contrário; pois o meu amor à humanidade faz-me falar a todos que encontro, livremente e sem reservas,e sem remuneração; de fato, se eu pudesse, de boa vontade pagaria para me escutarem. Se pois, como acabo de dizer, eles se dispusessem apenas a rir de mim, como dizes que de ti riem, eu não acharia desagradável passar o dia desse modo, rindo e chalaceando no tribunal. Mas se vão encarar o caso a sério, então só profetas como tu podem dizer como isto acabará.
       Euthifron - Bem, Sócrates, o mais natural é que nada aconteça. É muito provável que sejas bem sucedido no teu julgamento, como creio que serei no meu. 
       Sócrates - E que ação é essa tua, Euthifron? És queixoso ou réu?
       Euthifron - Queixoso. 
       Sócrates - Contra quem? 
       Euthifron - Contra um homem que me julgam doido por levar ao tribunal. 
       Sócrates - O que? tem asas para voar? 
       Euthifron - Está muito longe de poder voar; é um homem muito velho. 
       Sócrates - Quem é ele? 
       Euthifron - Meu pai. 
        (Então, tendo Euthifron declarado que acusava o pai por ter morto um escravo, Sócrates pede-lhe para definir a piedade. Euthifron embrulha-se, e Sócrates faz-lhe notar que não lhe respondeu a pergunta. Não lhe pedira um exemplo particular de santidade. O que quer saber é o que faz santas todas as ações santas. Euthifron por fim define a santidade como sendo "aquilo que agrada aos deuses". Mas Sócrates, por uma série de perguntas em aparências inocentes, obriga Euthifron a admitir o absurdo da sua definição. Duas outras definições que Euthifron dá não tem melhor sorte, e ele passa dum estado de superioridade complacente a um de absoluta confusão e de amor próprio ofendido.) 
        Sócrates - Temos então que começar, e analisar o que seja santidade. Não tenciono desistir antes de saber. Não me julgues indigno; dá toda a atenção ao assunto e desta vez diz-me a verdade. Porque se alguém a sabe, és tu; e tu és um Proteu que não devo largar antes que mo tenhas dito. É impossível que pensasses em acusar o teu velho pai pelo assassinato de um trabalhador se não soubesses exatamente o que é a santidade e a ausência dela. Terias receado arriscar-te à cólera dos deuses, no caso de ser a tua má ação, e terias receado a opinião dos homens. Mas agora tenho por certo que sabes exatamente o que é santo e o que não é; por isso diz-mo, meu excelente Euthifron, e não me ocultes o que julgas que o é. 
         Euthifron- Outra vez será, Sócrates; agora tenho pressa e são horas de ir andando. 
         Sócrates - O que fazes, meu amigo? Vais-te embora e destróis todas as minhas esperanças de aprender de ti o que é santo e o que não é, e assim escapar a Meleto? Queria explicar-lhe que agora que Euthifron me fez saber das coisas divinas, nunca mais, na minha ignorância, falarei delas precipitadamente, nem nelas farei inovações; e depois iria prometer-lhe viver uma vida melhor no futuro. 
                                                       

CAPITULO II
DEFESA DE SÓCRATES PERANTE OS ATENIENSES
       Sócrates - Não sei qual a impressão, atenienses, que os meus acusadores vos causaram; quanto a mim, sei que quase me fizeram esquecer quem sou, tão plausíveis foram as suas razões; e contudo, quase que não disseram uma palavra que fosse verdade. Mas de todas as mentiras que disseram, a que mais me assombrou foi a de vos dizerem que sou um belo orador e que vos deveis acautelar para que não vos induza em erro. Achei que era grande a audácia da parte deles o falar assim sem se envergonharem; porque desde que eu abrisse a boca ficará reputada aquela mentira, e provaria que de modo algum posso ser considerado um belo orador; a não ser, é certo, que por belo orador entendam um homem que diz a verdade. Se é isso que querem dizer, concordo que sou muito melhor orador do que eles. Os meus acusadores, repito, pouco ou nada disseram de verdade; mas sim de mim ouvireis a verdade completa. Não escutareis decerto, atenienses, um discurso brilhante, engalanado, como o deles, com palavras e frases. Dir-vos-ei  o que tenho a dizer, sem preparação, e nas palavras que primeiro me ocorrerem, porque creio que a minha causa é justa; de modo que nenhum de vós deve esperar outra coisa. Na verdade, meus amigos, mal me ficaria, na minha idade, vir ante vós como um jovem com as suas mentiras especiosas. Mas há uma coisa, atenienses, que com instância e sinceridade vos peço. Não vos admireis nem me interrompais se na minha defesa eu falar da mesma maneira em que costumo falar no mercado, às mesas dos cambistas, onde muitos de vós me tem escutado,e noutros pontos. A verdade é esta. Tenho mais de setenta anos e esta é a primeira vez que compareço ante um tribunal; de modo que o vosso modo de falar me é inteiramente estranho. Se eu fora realmente estrangeiro perdoar-me-ias, por falar na língua e segundo o costume da minha pátria; e agora peço-vos que me concedais aquilo a que creio ter direito. Nãos vos importe o estilo do meu discurso- será bom ou mau - mas dai toda a vossa atenção à questão. O que eu digo é justo ou não é? Isso é que se faz um bom juiz, como falar a verdade faz um bom advogado.
         Tenho a defender-me, atenienses, primeiro, das intrigas falsas queixas dos meus antigos acusadores, e depois das queixas mais recentes dos meus acusadores atuais. Porque muitos homens há que muito tempo me tem tornado conhecido de vós, e que não tem dito uma palavra de verdade; e temo-os mais do que temo Anito e os seus companheiros, por formidáveis que sejam. Porque, meus amigos, os outros são ainda mais formidáveis; porquanto desde crianças que muitos de vós são influenciados por eles, que tem sido mais persistentes que os outros em tentar persuadir-vos que há um Sócrates, homem sábio, que raciocina acerca dos céus e analisa o que possa haver debaixo da terra, e que pode "fazer o pior parecer melhor". 
        Os homens que espalham esse boato, atenienses, são os acusadores que temo; porque os seus ouvintes julgam que os indivíduos que se ocupam dessas coisas nunca acreditam nos deuses.
E eles são muitos, e há muito tempo que me atacam; e a vós falaram disto quando ereis de idade em que sem hesitação dáveis crédito ao que diziam; porque ereis todos novos e muitos de vós crianças; e não havia quem lhes respondesse quando me atacavam. E o que nisto tudo é mais estranho é que nem mesmo sei bem os seus nomes; não vos posso dizer quem são, exceto no caso dos poetas cômicos. 
       Mas todos os outros que tem tentado malquistar-vos comigo, por motivos de inveja e despeito, e às vezes, talvez, por convicção, são os inimigos a quem é mais difícil combater.  Porque não posso chamar qualquer deles aqui ao tribunal para o interrogar; tenho, por assim dizer, que lutar com sombras em defesa própria, e fazer perguntas a que não há ninguém para responder. Peço-vos portanto, que acrediteis que, como digo, tenho sido atacado por duas classes de acusadores - primeiro, por Meleto e os seus amigos, e depois por esses mais antigos de que vos falei. E se me dais licença defender-me-ei primeiro das queixas dos meus velhos inimigos; porque foram as acusações deles que primeiro ouvistes, e foram muito mais persistentes do que são os meus acusadores atuais.  
       Tenho que me defender, ateniense, e de, no pouco tempo que me é dado, tentar remover o preconceito que contra mim de ha muito tendes. 
       Recomecemos pois e vejamos qual a acusação que deu origem ao preconceito que há contra mim, e que foi aquela de que se valeu Meleto ao formular a sua queixa. Qual é a calúnia que a meu respeito os meus inimigos tem espalhado? Suporei que me estão acusando formalmente e lendo a sua queixa. Ressoaria pouco mais ou menos assim: "Sócrates é um criminoso, que se ocupa de investigar o que se passa debaixo da terra, e no céu, e que faz o pior parecer melhor, e que ensina aos outros estas coisas." 
        É isto o que dizem; e na Comédia de Aristófanes vós próprios vistes um homem chamado Sócrates andando à roda dentro de um cesto pendurado, e dizendo que anda no ar, assim como muitos disparates acerca de assuntos de que não percebo nem pouco nem muito, mas nada. De modo algum quero depreciar essa ciência se há alguém que a possui. Espero que Meleto nunca me poderia acusar por causa disso. Mas a verdade é, atenienses, que não tenho nada que ver com esses assuntos, e vós sois quase todos testemunhas disso. Peço a todos vós que me tem ouvido falar, e são muitos, que informem os outros e lhes digam se alguma vez me ouviram conversar muito ou pouco, a respeito desses assuntos. Isso mostrar-vos-á que as ou coisas que vulgarmente de mim contam são falsas como esta.  
        (Acusam-no de ser ao mesmo tempo um sofista mau que exige dinheiro por ensinar, e um filosofo natural. Faz a distinção entre estas duas coisas e mostra que não é nenhuma delas. Não é popular porque se impôs o dever de examinar os homens, em vista de uma certa resposta dada pelo oráculo de Delfos, "que ele era o mais sábio dos homens".Descreve o como examinou os homens para avaliar da verdade do oráculo. Isto trouxe-lhe muitos ódios; os homens não gostam que lhes provem que são ignorantes quando se julgam sábios, de modo que lhe chamam um sofista e muitas outras coisas más, porque desfaz a sua pretensão à sabedoria.) 
       O que tenho dito deve bastar para me defender contra as acusações dos meus primeiros inimigos. Tentarei agora defender-me contra Meleto, aquele "bom patriota", como ele próprio se designa, e os meus acusadores mais recentes. Suponhamos que são uma nova classe de queixosos, e leiamos a sua queixa como no caso dos outros fizemos. Reza assim: diz ele que Sócrates é um criminoso que corrompe a juventude e que não acredita nos deuses da religião da cidade, mas em outras e novas divindades. A acusação é esta.
        Examinemos separadamente cada detalhe dela. Meleto diz que faço uma má ação corrompendo a juventude; mas afirmo, atenienses, que a má ação é a dele; porque está fazendo uma partida solene, arrastando homens aos tribunais, de animo leve, e afetando ter grande zelo e interesse em assuntos a que nunca deu um momento de atenção. E agora tentarei provar-vos que assim é. 
       Anda cá Meleto. Não é fato que julgas muito importante  que os jovens sejam quanto possível excelentes? 
       Meleto - É. 
       Sócrates - Diz então aos juízes quem é que os aperfeiçoa. Interessas-te tanto pelo assunto que não podes deixar  de o saber.  Acusas-me e trazes-me ao tribunal porque, como dizes, descobriste que sou quem corrompe a juventude. Ora, agora dize aos juízes quem a aperfeiçoa. Bem vez, Meleto, que nada tens a dizer; calas-te. Mas não achas isso uma coisa escandalosa? Não prova o teu silêncio concludentemente que tenho razão, e que nunca deste ao assunto um momento de atenção? Vamos dize-nos quem torna os mancebos melhores cidadãos?   
       Meleto - As leis. 
       Sócrates - Meu caro senhor, não perguntei isso. Qual o homem que aperfeiçoa a juventude, que aliás já tem conhecimento das leis? 
      Meleto - Os juízes aqui, Sócrates. 
      Sócrates - Que queres tu dizer, Meleto? Podem eles educar os jovens e aperfeiçoá-los? 
      Meleto - Por cento que podem. 
      Sócrates - Todos eles? ou só alguns?  
      Meleto - Todos eles. 
      Sócrates _ Por Juno, a notícia é boa! Há uma grande abundância de benfeitores! E os ouvintes aqui, aperfeiçoam-nos ou não? 
      Meleto - Aperfeiçoam. 
      Sócrates - E os senadores? 
      Meleto - Também. 
      Sócrates - Então Meleto, são os membros da assembléia quem corrompe a juventude? ou também a aperfeiçoam? 
      Meleto - Também a aperfeiçoam. 
      Sócrates - Então todos os atenienses, a não ser eu, fazem dos jovens bons cidadãos, ao que parece; e só eu os corrompo. É isso que queres dizer? 
      Meleto - Por certo; é isso que quero dizer. 
      Sócrates - Descobriste que sou um homem desgraçadíssimo. Ora, dize-me: julgas, por exemplo, que o mesmo acontece com cavalos? Haveria um só homem que lhes fizesse mal, enquanto todos os outros os aperfeiçoam? Não é certo, ao contrário, que é um só homem, ou muito poucos - a saber, os que entendem de cavalos - que os podem aperfeiçoar; ao passo que a maioria dos homens lhes faz mal, se os usa, e se lida com eles? Não acontece o me, Meleto, tanto com cavalo como com qualquer outro animal? Claro que acontece, que tu e Anito digam que sim ou que não. E os jovens serial de certo gente muito feliz se só um homem os corrompesse e todos os outros lhes fizessem bem.  A verdade é, Mileto, que acabas de provar completamente que nunca em tua vida pensaste na juventude. É claro, visto o que tu próprio acabas de dizer, que não te interessas absolutamente nada pelos assuntos porque me acusas.  
        (prova ser absurdo dizer-se que ele corrompe a juventude propositadamente, e se é sem o querer fazer que a corrompe, a lei não autoriza Meleto a acusá-lo por culpa involuntária. Com respeito à acusação de ensinar aos jovens a não crer nos deuses da cidade, submete Meleto a um interrogatório e fá-lo contradizer-se várias vezes).
         Mas na verdade, atenienses, não creio ser preciso dizer muito para provar que não cometi o crime de que Meleto me acusa. O que eu disse já basta para provar. Mas repito, é absolutamente certo, como já vos disse, que me tenho tornado pouco popular e feito muitos inimigos. E é isso que causaria a minha condenação, se me condenassem; não Meleto nem Anito, mas o preconceito e a má vontade da multidão. Ela tem destruído muito boa gente antes de mim, e depois de mim muita destruirá ainda. Não haja medo de que eu seja a última vitima. 
        Haverá talvez quem dissesse: "não te envergonhas, Sócrates, de te entregares a assuntos que agora provavelmente causarão a tua morte?" E eu com justiça lhes responderia: "meu amigo, se julgas que um homem de algum valor deve calcular antes de agir as probabilidades de vida e de morte, ou que deve pensar em qualquer coisa que não seja se está agindo bem ou mal, ou como agiria um homem bom ou um mau, erras completamente." Na tua opinião,os semi-deuses que morreram em Troia deviam ser homens de fraco valor, e entre eles o filho de Thetis, que não pensou no perigo quando a alternativa era a infâmia. Porque, quando sua mãe, uma deusa, se lhe dirigiu, quando ele ardia por matar Heitor, suponhamos desse modo: "Meu filho, se vingares, matando Heitor, a morte do teu companheiro Patroclo, morrerás também porque o destino espera-te logo depois da morte de Heitor", ouviu o que ela disse, mas desdenhou o perigo e a morte; mais receava viver como um covarde não vingando o seu amigo. "Deixai que eu castigue o malfeitor e morra logo depois" disse ele, "para que não permaneça aqui, ao pé dos navios, desdenhado dos homens e demais sobre a terra." Julgais acaso que ele pensou no perigo ou na morte? Porque isto, atenienses, creio ser verdade: onde quer que seja o posto dum homem, quer livremente o tenha escolhido, quer ali tenha sido colocado pelo seu comandante, é seu dever ficar ali e fazer face ao perigo sem pensar na morte, ou em qualquer outra coisa que não seja a infâmia. 
       Quando os generais que escolhestes para me comandar me colocaram, atenienses, no meu posto em Potidea (colina grega)  e em Anfípolis e em Délio, fiquei onde me colocaram, e corri o risco de morte como os outros homens; e seria agora bem estranho da minha parte se deserdasse do meu posto  por medo da morte ou de qualquer outra coisa, quando Deus me mandou, como estou convencido que fiz, levar a minha vida a procurar a ciência e a examinar-me a mim e aos outros. Seria na verdade estranho; e então com justiça me poderiam acusar de não acreditar nos deuses; porque teria desobedecido ao oráculo, temido a morte, e julgado ser sábio quando não o era. Porque temer a morte, meus amigos, é simplesmente julgarmo-nos sábios sem o ser, porque é julgar que sabemos o que não sabemos. Ao que sabemos, a morte pode ser o maior bem que nos possa acontecer: mas tememo-la como se soubéssemos perfeitamente que é maior dos males. E o que é isto senão aquela vergonhosa ignorância que consiste em julgar que sabemos o que não sabemos? Neste assunto também, meus amigos, talvez eu seja diferente da maioria da humanidade; e se eu chegasse a pretender que sou mais sábio do que os outros, seria por não julgar ter conhecimento exato do outro mundo, quando, com efeito, o não tenho. Mas sei perfeitamente que é mau e baixo praticar o mal e desobedecer a um superior, seja ele um homem ou um deus. E nuca praticarei o que julgar ser o mal, nem temerei o que, ao que sei, pode realmente ser um bem. De modo que, mesmo que me absolvêsseis, não escutando o argumento de Anito de que se eu fora absolvido nem devia então ter sido julgado, e que, sendo o caso como é, tendes obrigação de me condenar à morte porque, como ele diz, se eu escapar todos os vossos filhos ficarão de todo corruptos por fazer  o que lhes ensina Sócrates; se pois me dissésseis,  "Sócrates, desta vez não atenderemos ao Anito; deixar-te-emos  ir em liberdade; mas com a condição de que abandonarás as tuas investigações e a tua filosofia; se continuares a seguir esses estudos, morrerás"; se me oferessesseis, repito, absolver-me com esta condição, 
responder-vos-ia : "Atenienses, tenho-vos o maior afeto e consideração; mas antes obedecerei a Deus do que a vós; enquanto tiver vida e saúde não abandonarei a filosofia, nem deixarei de vos aconselhar e de declarar a verdade a todos vós que encontrar, dizendo, como é meu costume: Meu caro amigo,és um cidadão de Atenas, grande cidade e famosa pela sua ciência e inteligência; não te envergonhas de dar tanta atenção ao dinheiro, à reputação, e à honra? Por que não cuidas ou pensas na ciência, na verdade e na perfeição da tua alma? "
        E se ele contestar estas palavras que realmente se importa com estas coisas, não o abandonarei imediatamente afastando-me; pararei, e submete-lo-ei a um interrogatório; e se julgar que não tem virtude, com quanto diga que tem, repreende-lo-ei por dar o menor valor às coisas mais importantes e o maior às coisas que são de menos monta. Isto farei a todos a quem encontrar, novos ou velhos, cidadãos ou estranhos; mas especialmente aos cidadãos, porque há entre mim e eles mais parecença. 
         Porque, bom é que saibas, Deus mandou-me fazer isto. Porque gasto a minha vida andando dum lado para o outro, persuadindo-vos a todos a dar o vosso primeiro e principal cuidado à perfeição das vossas almas, e a não pensar, antes de o terdes feito, nos vossos corpos ou no vosso dinheiro; e dizendo-vos que não é a virtude que vem da riqueza, mas sim a riqueza, e tudo o mais quanto de bom os homens tem, quer pública, quer particularmente, que vem da virtude. Se eu portanto corrompo a juventude ensinando-lhe isto, o mal que faço é grande; mas se há alguém que diga que ensino qualquer outra coisa, falseia a verdade. E portanto, atenienses, atendei a Anito ou não o atendais; absolvei-me ou não me absolvais; tende porém a certeza que não alterarei o meu modo de vida; não,nem que por isso tenha de morrer muitas vezes. 
        (Se os atenienses o condenarem à morte, farão mais mal a si mesmos do que a ele. A cidade é como um grande e belo cavalo tornado indolente pelo seu tamanho e precisando ser espicaçado. Ele foi a mosca mandada por Deus para o atacar. Explica porque não tem tomado parte na vida pública. Se o tivesse feito teria perecido sem vantagem para a cidade, porque ninguém o podia obrigar a praticar o mal por medo da morte. A sua conduta em duas ocasiões prova isto). 
         Bem, meus amigos, é isto o que, com talvez outras coisas parecidas, eu tenho a alegar em minha defesa. Haverá entre vós alguém que se recorde de como, mesmo num julgamento menos importante do que este, pediu e implorou aos juízes com muitas lágrimas para o absolverem, e como trouxe os filhos e muitos amigos e parentes para o tribunal, para sensibilizar; e agora vede que nada  disto faço, conquanto esteja o que julgam ser o maior dos perigos. Talvez isso lhe dê uma opinião desfavorável a mau respeito; pode ser que se encolerize e dê nesse estado o seu voto.  Se isso acontecesse a qualquer de vós - não suponho que aconteça, mas se assim fosse - parece-me que  responderia razoavelmente, dizendo: Meu amigo, tenho parentes também porque, como diz Homero, "não nasci de paus ou de pedras, mas de uma mulher"; de modo que, atenienses, tenho parentes, e tenho três filhos, um deles já rapaz, e os outros dois ainda crianças. E contudo não trarei nenhum deles perante vós, para que me absolveis. 
         E porque não faço nada disto? Não é por arrogância, atenienses, nem porque vos tenha em pouca conta; se saberei ou não encarar a morte com coragem é outro assunto; mas para meu crédito, para o vosso crédito e para o crédito da nossa cidade, não acho bem, na minha idade e com o meu nome, fazer qualquer coisa desse gênero. Com razão ou sem ela está muita gente persuadida de que de qualquer maneira difere Sócrates do resto da humanidade. E será uma coisa vergonhosa se aqueles de vós de quem se pensa que se distinguem pela sabedoria ou pela coragem ou por qualquer outra virtude, procederem desse modo. Muitas vezes tenho visto homens com boa reputação proceder de modo estranho no seu julgamento, como se julgassem uma sina terrível o serem mortos, e como se esperassem viver eternamente se vós não os condenásseis à morte. Estes homens parecem-me redundar em descrédito da cidade; pois qualquer estrangeiro poderia supor que os atenienses melhores e mais eminentes, que são escolhidos pelos seus concidadãos para exercerem cargos públicos e para outras honras, não passam de mulheres. Aqueles de vós atenienses, que tem alguma  reputação, não devem fazer estas coisas; e não deveis deixar que as façamos; deveis mostrar que sereis muito mais impiedosos para aqueles que tornam a cidade ridícula por estas cenas desgraçadas, do que para os que se conservam sossegados.
          Mas à parte  a questão dos crédito, meus amigos, não me parece bem que se peça ao juiz para nos absolver, e desse modo se escape à condenação.  É nosso dever convencer-lhe o espírito por meio de raciocínios. Ele não está ali para oferecer justiça aos amigos, mas para pronunciar o julgamento; e jurou não favorecer alguém a quem deseje favorecer, mas decidir tudo de acordo com a lei. E portanto, não devemos ensiná-los a perjurar; e não deveis permitir que lho ensinem, porque então nem eles nem nós agiríamos bem. Portanto, atenienses, não espereis de mim que faça estas coisas, porque creio que não são nem boas, nem justas, nem santas; e muito especialmente não espereis que as faça hoje, quando Meleto me acusa de blasfêmia. Porque se eu vencesse e conseguisse pelos meus pedidos que quebrásseis o vosso juramento, claramente vos estaria ensinando que não há deuses; estaria simplesmente pela minha defesa acusando-me de não acreditar neles. Mas, atenienses, isso está longe de ser a verdade. Creio nos deuses, e como não crê nenhum nenhum dos meus acusadores; e a vós e a Deus entrego a minha causa para que seja decidida como melhor for para vós e para mim. 
           ( Dão o crime como provado por 281 votos contra 220). 
          Por muitas razões me não apoquenta a decisão que acabaste de dar, atenienses. Esperava que decidísseis contra mim; e o que mais me admira não é isso, mas a votação. Deveras não esperava que a maioria contra mim fosse tão reduzida. Mas agora vejo que se apenas 30 votos tivessem passado de um lado para o outro, eu teria escapado.
          (Meleto propõe a pena de morte. A lei permite a um criminoso propor uma alternativa. Como é um bem-feitor público, Sócrates pensa que devia ser mantido pelo Estado no Pritaneu como um vencedor olímpico. Falando  a sério, porque proporia ele uma pena? Tem a certeza de que não fez mal nenhum. Não sabe se a morte é um bem ou um mal. Porque proporia então uma coisa que sabe que é um mal? É certo que o pagamento de uma multa não seria um mal, mas o que também e certo é que não tem com que pagar; talvez possa reunir uma mina (alguns trocados) é o que propõe. Ou, se os seus amigos  quiserem, oferece trinta minas, ficando os seus amigos por fiadores). 
          (É condenado á morte) 
          Não ganhastes muito tempo, atenienses, e como prêmio disto tereis um mau nome de todos quantos queiram dizer mal da cidade, porque atirar-vos-ão à cara que condenastes Sócrates, um sábio, à morte. Porque com certeza me chamarão sábio, quer eu o seja ou não, quando vos quiserem acusar. Se tivésseis esperado um pouco, a natureza ter-vos-ia feito a vontade; porque vedes que sou um velho, bastante velho mesmo e perto da morte. Não estou falando a todos vós, mas só àqueles que votaram pela minha morte. E agora é a eles que me continuo a dirigir. Talvez, meus amigos, jugueis que fui derrotado por falha de argumentos com que vos poderia persuadir a absolver-me, dado que julgasse próprio fazer ou dizer qualquer coisa para escapar ao castigo.
         Não é assim. Fui derrotado porque falho, não de argumentos, mas de audácia e arrojo; porque não quis defender-me ante vós como quereis ouvir-me defender-me, nem implorar-vos chorando ou gemendo, ou dizer ou fazer muitas outras coisas que tenho por indignas de mim, mas a que estais acostumados por outros. Mas eu, quando me defendia, poderei em que não devia fazer nada de pouco viril por causa do perigo que corria, e não mudei de atitude desde então. Prefiro ter-me defendido como defendi e morrer, do que ter-me defendido como quereis e viver. Tanto num tribunal como numa guerra há coisas que nem a mim nem a qualquer outro é lícito fazer para escapar à morte. Na batalha um homem muitas vezes vê que pode pelo menos escapar à morte, abandonando as armas e ajoelhando aos pés do inimigo para pedir que lhe poupe a vida. E há muitas outras maneiras de escapar à morte em todos os perigos, para quem não tem escrúpulos que o impeçam de dizer ou fazer qualquer coisa.   
        Mas, meus amigos, creio ser coisa muito mais difícil  fugir à maldade do que à morte, porque a maldade é mais rápida que a morte. Ora, eu que sou velho e tardo, fui apanhado pela perseguidora mais lenta, e os meus acusadores que são inteligentes e velozes, foram apanhados pela perseguidora mais rápida, que é a maldade. E agora irei daqui condenado á morte; e eles irão daqui condenados pela verdade a receber a pena da maldade e do mal.  E estou por este prêmio assim como eles. Talvez fosse bom que isto assim se desse; e creio ter-se dado com justiça. 
         E agora quero vaticinar perante vós, atenienses, que me condenastes.  Porque vou morrer,  e essa é a hora em que os homens mais tem poder profético. E vaticino a vós, que me condenastes á morte, que um castigo muito mais severo do que o que me infligistes inevitavelmente cairá sobre vós logo que eu estiver morto. Fizestes isto pensando que não teríeis que dar conta das vossas vidas. Mas digo eu que o resultado será muito diferente. Haverá mais homens que vos pedirão contas, homens que retive e que vós não vistes. E eles ser-vos-ão mais duros do que eu tenho sido, porque serão mais novos, e encolerizar-vos-ei mais com eles. Porque se julgais evitar que os homens vos repreendam pela vossa má vida, condenando-os à morte, enganai-vos muito. Esse modo de fugir é quase impossível e não é bom. É muito melhor e muito mais fácil não fazer calar as censuras, mas tornar-vos o mais perfeitos possível.  Esta é a profecia que faço ao despedir-me de vós que me condenastes. 
           (Tendo repreendido severamente os que o condenaram, diz aos que o absolveram que estejam tranquilos. Nada de mau pode acontecer a um homem bom, quer na vida quer na morte. A morte ou é um sono eterno e sem sonhos onde nada se sente; ou uma viagem a um outro mundo melhor, onde estão os grandes homens da antiguidade. Em qualquer dos casos não é um mal, mas um bem). 
          E vós também, juízes, deveis fazer frente à morte corajosamente e ter isto por certo, que nada de mau pode acontecer a um homem bom, quer em vida quer depois da morte. A sua sorte não é descurada pelos deuses; e o que hoje me aconteceu não creio que tenha acontecido por acaso. Estou convencido de que era melhor para mim morrer agora e ficar liberto de todo o cuidado; e que foi essa a razão porque o signo nunca me mandou retroceder. De modo que mal estou zangado com os meus acusadores ou com os que me condenaram á morte. Não foi porém com este pensamento que eles me acusaram e condenaram, mas querendo fazer-me mal. De modo que por isso posso censurá-los. 
        Mas tenho um pedido a fazer-lhes. Quando meus filhos crescerem, castigai-os, meus amigos, importunai-os do mesmo modo do que eu os importunei, se virdes que eles preferem a riqueza ou outra coisa qualquer à virtude; e se eles julgarem que são alguma coisa, quando não são nada, reprendei-os como vos tenho repreendido, por não cuidarem do que deviam e por se julgarem grandes homens quando de fato não tem valor nenhum. E se fizerdes isto, eu e meus filhos teremos recebido de vós o que merecemos. 
          Mas a hora chegou, e temos de nos ir; eu para a morte, e vós para a vida. Se a vida ou a morte é melhor, sabe-o Deus, e só Deus. 

OBSERVAÇÕES FINAIS: 
     Em vida, Sócrates nos legou sua enorme sabedoria; na morte nos deu o exemplo de coragem e resignação, mas sempre salientando que a sabedoria, a virtude e a dignidade sobrevivem á ganância, ao orgulho e aos preconceitos; e só elas - virtude e sabedoria - são capazes de purificar e elevar a alma que é a razão pela qual estamos aqui.
      Chamo a atenção dos leitores para os comentários feitos por Platão nos intervalos do julgamento. Ele consegui com este escrito nos colocar dentro do tribunal, assistindo o primeiro grande crime da democracia.
       Na véspera de beber a mortífera taça de cicuta, Sócrates foi informado secretamente por seus amigos de que estava livre, porque eles haviam subornado o guarda da prisão, que abriria a porta do cárcere durante a noite. Todavia ele se recusou a fugir, alegando que, se assim fizesse, nem seus próprios amigos e discípulos acreditariam na sinceridade das suas convicções; por outro lado, não considerava a morte como o fim da vida, mas como simples transição de um para outro ambiente de existência. Quando seu mais devoto amigo, Kriton, insistiu com súplicas e lágrimas  que escapasse á morte iminente, o velho filósofo fez ver ao amigo que ninguém podia matá-lo, porque ele era imortal, porquanto o verdadeiro Sócrates era a alma e não o corpo dele, mero invólucro temporário daquela. Permaneceu sentado no cárcere aberto, e na manhã seguinte sorveu tranquilamente o veneno mortífero, que pôs fim à vida do primeiro mártir da filosofia ocidental. 
        Na filosofia ocidental, Sócrates pode ser considerado o pioneiro da ideia da imortalidade do homem; e pensando assim, podemos considerá-lo como o primeiro cristão, antes de Cristo ter nascido. 
Nicéas Romeo Zanchett